“Alma”, de Itamar Vieira Junior
uma análise na perspectiva das neonarrativas de escravidão
DOI:
https://doi.org/10.17851/2358-9787.32.4.108-122Palavras-chave:
Alma, neonarrativa de escravidão, realismo afetivoResumo
O presente artigo tem como objetivo analisar o conto “Alma”, de Itamar Vieira Junior, publicado na coletânea Doramar ou a odisseia: histórias (Vieira Junior, 2021), na perspectiva das neonarrativas de escravidão (Rushdy, 1997), ou seja, de narrativas que se ambientam na época do sistema escravagista e se apropriam de alguns elementos típicos dos relatos de escravos dos séculos XVIII e XIX, como a enunciação em primeira pessoa, o relato das atrocidades do regime escravocrata e da fuga. As neonarrativas de escravidão surgiram em um contexto anglófono na década de 1960, entretanto, se difundiram nos países em que o sistema escravocrata foi implantado, e há várias obras que podem ser assim compreendidas na literatura brasileira contemporânea. O artigo reflete também sobre o modo como essas narrativas produzem novas formas de experiência estética, bem como um realismo afetivo (Schøllhammer, 2013) que é evocado além da representação. No conto de Vieira Junior, o efeito de realidade está estreitamente ligado à questão étnico-racial e à intervenção na realidade receptiva (Schøllhammer, 2012, p. 130).
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