A vez e a voz decolonial nas escrevivências evaristianas
o (re)tecer da memória ancestral em Poemas da recordação e outros movimentos
DOI:
https://doi.org/10.17851/2358-9787.32.4.207-228Palavras-chave:
Conceição Evaristo, escrevivências, decolonialidade, memória, imaginárioResumo
O projeto ficcional da escritora Conceição Evaristo, na perspectiva da literatura afro-brasileira, é perpassado pelo tema da decolonialidade ao (re)tecer a memória ancestral sob o ponto de vista do protagonismo de autoria da mulher negra e periférica. Diante disso, a poética evaristiana, bem como a sua obra, em prosa e/ou poesia, faz um resgate das vozes silenciadas que sofreram a tentativa de apagamento pelos mecanismos hegemônicos eurocêntricos colonizadores do poder (Quijano, 2009). Nesse sentido, propomos nesta investigação analisar, por meio das escrevivências, as imagens poéticas presentes em dois poemas da coletânea Poemas da recordação e outros movimentos (2021), a partir do olhar decolonial e memorialístico da escritora. A leitura será analítico-interpretativa, com ênfase na perspectiva da fenomenologia das imagens poéticas de Gaston Bachelard, no percurso antropológico do imaginário preconizado por Gilbert Durand (2012), nas potencialidades do inconsciente coletivo de Carl G. Jung (2000), na memória coletiva de Maurice Halbwachs (2006) e Pollak (1990) e na decolonialidade proposta por Mignolo (2017), Quijano (2009) e Lélia Gonzalez (1984). A poética Evaristiana é perpassada tanto por uma construção simbólica de imagens poéticas vistas como uma desobediência epistêmica (Mignolo, 2017), quanto pela memória coletiva e individual (Halbwachs, 2006) que (re)tece as vivências de um eu-feminino decolonial ao remontar um passado diaspórico ancestral, a partir da percepção do presente sobre as agruras que ficaram como marcas do passado.
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