Autoria feminina negra na literatura juvenil

a memória coletiva na formação de identidades

Autores

  • Pedro Afonso Barth Universidade Federal de Uberlândia

DOI:

https://doi.org/10.17851/2358-9787.32.4.384-404

Palavras-chave:

memória coletiva, literatura juvenil, relações étnico-raciais, textualidades negras, bildungsroman

Resumo

Com a finalidade de traçar um panorama sobre a produção literária de mulheres negras no âmbito da literatura juvenil brasileira, o presente estudo traz uma comparação entre A cor da ternura (2018), obra de Geni Guimarães publicada originalmente em 1989, Os nove pentes d’África (2009) de Cidinha Silva e O mistério da sala secreta (2021) de Lavínia Rocha. As três obras foram produzidas em momentos distintos e há a configuração de personagens femininas negras pré-adolescentes em uma jornada de autoconhecimento e reconstrução. A partir de Halbwachs (2006), Jelin (2002), Candau (2012), Debus (2018, Spivak (2010), as obras foram comparadas, analisando como em cada narrativa são tematizadas para jovens leitores questões como racismo, identidade e ancestralidade, por meio de sua relação com uma memória coletiva. Na obra de Guimarães, é pela memória que a protagonista ativa lembranças de dor e alegria que a fazem compreender a sua identidade negra. Por sua vez, na obra de Cidinha Silva, a ancestralidade de uma família é retomada e revivida pela simbólica imagem de pentes esculpidos do avô para seus netos. Já em O mistério da sala secreta, em um clima de aventura, temos a jornada de Júlia para salvar a escola Maria Quitéria de ser fechada, e nessa busca, ela precisa também mergulhar em memórias outras para entender a sua identidade. É possível concluir que a memória coletiva ocupa um importante papel estruturante nas três narrativas analisadas e juntas oferecem um importante panorama de representações identitárias para os jovens leitores.

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Publicado

2024-04-23

Edição

Seção

Dossiê: Literaturas negras brasileiras em discussão