Baudelaire transposto por Eduardo Guimaraens

Autores

DOI:

https://doi.org/10.17851/2358-9787.33.4.%25p

Palavras-chave:

ritmo (poesia), tradução, poema em prosa

Resumo

Mencionado por Antonio Candido no início do ensaio “Os primeiros baudelairianos” como um autor que surgiu imediatamente após o ápice da influência de Baudelaire no Brasil, Eduardo Guimaraens (1892-1928) foi um leitor obcecado e um pesquisador arguto dos princípios do poeta francês. Atento à noção de ritmo em diferentes níveis, Guimaraens alcançou uma afinidade intensa com as formas e ritmos originais ao traduzir para o português 83 poemas de As Flores do Mal, mantendo muitos alexandrinos e a equivalência de rimas graves e agudas. Inspirado pela dualidade arquitetural de As Flores do Mal, segundo Lawler (1997), Guimaraens elegeu essa alternância como fundamento para a estruturação de seu livro de poemas Divina Quimera (1916). Além disso, em sete poemas em prosa publicados na revista “Fon-Fon!” em 1914, ainda hoje pouco conhecidos, ele empregou estratégias semelhantes às de Baudelaire em Petits poèmes en prose, como repetições, pausas, assonâncias e variações no comprimento das frases, projetando na sequência da prosa algo da ressonância da poesia. Ao adotar essa última forma de composição, Guimaraens – como Baudelaire – assumiu a instabilidade interpretativa como um projeto literário, empurrando a suspensão e a tensão para um nível ainda mais incerto do que produzido pela alternância de temas, ritmos e abordagens na disposição dos poemas em um livro. Este artigo analisa, portanto, estas três maneiras de incorporação da obra baudelairiana por Eduardo – tradução, estruturação do livro de poemas e produção de poemas em prosa – e discute como se entrelaçam.

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Publicado

2025-01-13