Paulo Henriques Britto, tradutor de si mesmo

Autores

  • Julia de Vasconcelos Magalhães Veras Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) | Belo Horizonte | MG | BR \ Université Paris 8 Vincennes Saint-Denis Saint-Denis | FR https://orcid.org/0009-0003-6608-5959

DOI:

https://doi.org/10.17851/2358-9787.34.2.%25p

Palavras-chave:

autotradução, multilinguismo, Paulo Henriques Britto

Resumo

Este artigo pretende destacar um aspecto ainda pouco explorado na obra do poeta Paulo Henriques Britto, que é a maneira como a autotradução ocupa um lugar central em sua poética, revelando uma tensão constante entre a materialidade da linguagem e o esvaziamento do sentido, que coincide com aquilo que ele nomeia como “Formas do nada”. Pretende-se, a partir de uma aproximação com a obra bilíngue de Samuel Beckett, figura incontornável nos estudos sobre a autotradução, propor uma leitura da poesia de Britto que entenda o gesto autotradutório não como mera reescrita, mas como parte inerente da construção do sujeito lírico, que coincide com “máscaras sem rosto” (autotraduzido por “vacuity”). Finalmente, a análise de alguns poemas autotraduzidos dos livros Formas do nada e Tarde, entre outros, mostra como a autotradução, em Paulo Henriques Britto, opera como um princípio criativo e estético que evidencia o caráter insuficiente da linguagem e os “simulacros de sentido” dessa poética que vai rumo a um confronto com o nada.

Biografia do Autor

  • Julia de Vasconcelos Magalhães Veras, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) | Belo Horizonte | MG | BR \ Université Paris 8 Vincennes Saint-Denis Saint-Denis | FR

    Doutora em Teoria da Literatura e Literatura Comparada, pela Universidade Federal de Minas Gerais e pela Université Paris 8 Vincennes Saint-Denis, em regime de cotutela (2018). Mestre em Literaturas de Expressão Inglesa, pela UFMG (2012). Possui graduação em Psicologia, pela UFMG (2008) e em Letras: Português / Inglês, pela Universidade de Franca (2025). Tem experiência clínica na área de psicanálise, psicologia hospitalar e saúde mental. Atua como psicóloga clínica e pesquisadora independente na área de Letras, com ênfase em teoria da tradução literária, autotradução, bilinguismo, multilinguismo, literatura e língua estrangeira (francês e inglês), especialmente nas obras de Samuel Beckett e Nancy Huston.

Referências

BAKER, Mona; SALDANHA, Gabriela (Ed.). The Routledge Encyclopedia of Translation Studies. USA; Canada: Routledge, 1998.

BAKER, Mona; SALDANHA, Gabriela. (Ed.). The Routledge Encyclopedia of Translation Studies. USA; Canada: Routledge, 2009.

BECKETT, Samuel. L’Innommable. Paris: Minuit, 1953.

BERMAN, Antoine. L’Épreuve de l’étranger. Paris: Gallimard, 1984.

BISHOP, Elizabeth. O iceberg imaginário e outros poemas. Seleção, tradução e estudo crítico de Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

BRITTO, Paulo Henriques. “A tradução é uma forma de escrita literária”. Entrevistadores: Caetano W. Galindo; Sandra M. Stroparo. Cândido: portal da Biblioteca Pública do Paraná, Curitiba, s/p, 2020. Disponível em: https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Entrevista-Paulo-Henriques-Brito. Acesso em: 10 dez. 2024.

BRITTO, Paulo Henriques. A tradução literária. Evando Nascimento (Org.). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012a. (Coleção Contemporânea)

BRITTO, Paulo Henriques. “Entrevista: Paulo Henriques Britto”. In: Cadernos de tradução. v. 1, n. 2. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1997a. p.467-495.

BRITTO, P. H. Fim de verão. São Paulo: Companhia das Letras, 2022

BRITTO, Paulo Henriques. Formas do nada. Poemas. São Paulo: Companhia das Letras, 2012b.

BRITTO, Paulo Henriques. “I, Too, Dislike It”. In: MASSI, Augusto. (org.). Artes e ofícios da poesia. Porto Alegre: Artes e ofícios, 1991. p. 264-267.

BRITTO, Paulo Henriques. “Lorem Ipsum: uma autoversão poética”. In: Tradução em Revista, v. 16, n. 1, 2014. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/23238/23238.PDF. Acesso em: 10 dez. 2024.

BRITTO, Paulo Henriques. Macau. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

BRITTO, Paulo Henriques. Nenhum mistério. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

BRITTO, Paulo Henriques. “Paulo Henriques Britto: entrevista”. Entrevistadores: Caetano W. Galindo; Walter Carlos Costa. Curitiba: Medusa, 2019. 168 p. (Coleção Palavra de Tradutor).

BRITTO, Paulo Henriques. Tarde. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

BRITTO, Paulo Henriques. “Tradução e criação”. In: Cadernos de tradução. v. 1, n. 4. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1999. p.239-261.

BRITTO, Paulo Henriques. Trovar claro. São Paulo: Companhia das Letras, 1997b.

BRITTO, Paulo Henriques. “Uma Experiência de Autotradução”. Philia&Filia. v. 02, n. 1, 2013. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/Philiaefilia/article/view/51170. Acesso em: 10 dez. 2024.

CLÉMENT, Bruno.; NOUDELMANN, François. Beckett. Paris: adpf ministère des Affaires étrangères, 2006.

OUSTINOFF, Michael. Bilinguisme d’écriture et auto traduction: Julien Green, Samuel Beckett, Vladimir Nabokov. Paris: L’Harmattan, 2002.

CINTRA, Elaine Cristina. “O sujeito fora de si em Tarde, de Paulo Henriques Britto”. In: Itinerários, Araraquara, v. 28, p. 45-58, 2009. DOI: https://doi.org/10.58943/irl.v0i0.2139.

COLLOT, Michel. A matéria-emoção. 1. ed. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2018. Tradução

de Patricia Souza Silva. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2018.

FLAUBERT, Gustave. “Lettre à Louise Colet, 16 de jan de 1852”. In: Correspondance. Pleiade, tome II. Paris: Gallimard, 1980.

GRUTMAN, Rainer. “Auto-traduction”. In: BAKER, Mona; SALDANHA, Gabriella (Ed.). The Routledge Encyclopedia of Translation Studies. USA; Canada: Routledge, 1998. p.17-20.

GRUTMAN, Rainer. “Self-translation.” In: BAKER, Mona; SALDANHA, Gabriella (Ed.). The Routledge Encyclopedia of Translation Studies. USA; Canada: Routledge, 2009. p.257-260.

MASSI, Augusto. (org.). Artes e ofícios da poesia. Porto Alegre: Artes e ofícios, 1991. p. 264-267.

RICŒUR, Paul. O si-mesmo como um outro. Trad. Lucy Moreira Cesar. Campinas: Papirus, 1991.

SERRANO, Daniel Bueno de Melo. “Figurações do banal na poesia de Paulo Henriques Britto”. Teoria e História Literária. Instituto de Linguagens. Campinas: Unicamp, 2023. Diss. Disponível em: https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UNICAMP30_4f9380a319ffcfe9e27bb2bf2cdc23e8. Acesso em: 10 dez. 2024.

SILVA, Elvis Barbosa Caldeira. Eu em cena: dramatizações da subjetividade em Ana Cristina Cesar e Paulo Henriques Britto. Instituto de Letras e Linguística. Programa de Pós-graduação em Estudos Literários. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2024. Diss. Disponível em: https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/41798/1/EuCenaDramatizações.pdf. Acesso em: 10 dez. 2024.

VERAS, Eduardo Horta Nassif. “A música desconhecida de Paulo Henriques Britto”. O Eixo e a Roda, Belo Horizonte, v. 24, n° 1, 2015, p. 187-201. DOI: https://doi.org/10.17851/2358-9787.24.1.187-201.

VERAS, Eduardo Horta Nassif. “Cálculos nos intestinos da prosa: a poesia como corpo estranho em Paulo Henriques Britto”. In: Anais eletrônicos do XV Encontro ABRALIC, 15. Rio de Janeiro: ABRALIC, 2016. p. 5670-5681.

VIANNA, Thais Abreu. “A Autotradução no Brasil: o caso da poesia bilíngue de Paulo Henriques Britto”. 2022. 83 f. Diss. Instituto de Letras, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2022. Disponível em: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/18582. Acesso em: 10 dez. 2024.

Downloads

Publicado

2025-07-08

Edição

Seção

Dossiê: O lugar do sujeito na poesia brasileira contemporânea