Biblioteca Invisível

a biblioclastia na Guerra da Bósnia e Herzegovina (1992-1995)

Autores

Palavras-chave:

Biblioclastia, Bósnia e Herzegovina, Guerra da, 1992-1995, Patrimônio bibliográfico, Danos de guerra, História do Livro e das Bibliotecas

Resumo

As bibliotecas e os livros têm sido alvos constantes de ataques e de destruições ao longo da história, em especial em situações de tensionamentos sociais e culturais e de conflito armado. Não obstante, o fenômeno da biblioclastia, entendida a rigor como a destruição de livros e de bibliotecas, não costuma ser percebido como um gesto proposital. A compreensão do tema é necessária para a proteção do patrimônio bibliográfico tanto por profissionais da informação quanto por meio do estabelecimento de políticas para proteção dos bens culturais. O presente estudo apresenta alguns atos de biblioclastia sucedidos no contexto da Guerra da Bósnia e Herzegovina, ocorrida entre 1992 e 1995. Utiliza como metodologia a análise de bibliografia especializada nos campos da História do Livro e das Bibliotecas, Memória e Patrimônio Bibliográfico (notadamente livros, artigos e documentos jornalísticos), a partir de Báez (2006), Battles (2003) e Polastron (2013) - o que evidencia a natureza bibliográfica e o caráter exploratório da pesquisa. Evidencia as relações entre memória, patrimônio bibliográfico e identidade. Define o termo de biblioteca invisível como uma metáfora para um acervo intocável por causa da destruição. Desmembra o conceito da biblioclastia, o considerando recorrente e, como demonstrado neste estudo, proposital e sistemático. Descreve o contexto e as razões para o estopim da Guerra da Bósnia e Herzegovina. Conclui que as motivações para as práticas de biblioclastia ocorridas na Guerra da Bósnia e Herzegovina são quatro: o apagamento da memória, o renascimento histórico-cultural, a purificação étnica e a dominação. A biblioclastia se expressa de diversas formas, em diferentes territórios e em múltiplas temporalidades, portanto, perceber as suas motivações é fundamental à compressão das operações de memória e de preservação que determinam a manutenção e/ou destruição dos bens culturais no tempo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BÁEZ, Fernando. Hacia una teoría parcial de la biblioclastia como fenómeno histórico. Revista de la Biblioteca Nacional, Montevideo, v. 11-12, p. 49-57, 2016. ISSN 0797-9061.

BÁEZ, Fernando. História universal da destruição dos livros: das tábuas da suméria à guerra no Iraque. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. 438 p.

BATTLES, Matthew. A conturbada história das bibliotecas. São Paulo: Planeta do Brasil, 2003. 238 p.

BLAZINA, Vesna. Mémoricide ou la purification culturelle : la guerre et les bibliothèques de Croatie et de Bosnie-Herzégovine. Documentation et bibliothèques, Montreal, v. 42, n. 4, p. 149-163, oct./déc. 1996.

BO, João Batista L. Proteção do patrimônio na UNESCO: ações e significados. Brasília [DF]: UNESCO, 2003. 186 p. ISBN 85-87853-62-7.

BOSCH, Mela; CARSEN, Tatiana. Biblioclastia: vocabulario controlado para la ampliación y profundización del concepto. Documentos del Laboratorio de Información de CAICYT. Buenos Aires, 2017 (1). 30 p. ISSN: 2469-1496.

CASE concerning application of the convention on the prevention and punishment of the crime of genocide (Bosnia and Herzegovina v. Serbia and Montenegro). [S.l.]: International Court of Justice, fev. 2017.

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador: conversações com Jean Lebrun. São Paulo: Editora UNESP, 2009. 160 p.

CHOAY, Françoise. Alegoria do património. Lisboa: Edições70, 2014. Disponível em: https://www.ufjf.br/lapa/files/2008/08/Alegoria-do-patrim%C3%B3nio-Fran%C3%A7ois-Choay.pdf. Acesso em: 11 out. 2020.

DARTON, Robert. O poder das bibliotecas. Folha de São Paulo, São Paulo: Folha, 15 abr., 2001. Caderno Mais, p. 4-7. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1504200105.htm>. Acesso em: 10 jan. 2018.

ECO, Umberto. Desear, poseer y enlouquecer. El Malpensante, Bogotá, n. 31, p. 1-3, jun. 2001.

FARIA, Maria Isabel; PERICÃO, Maria da Graça. Dicionário do livro: da escrita ao livro eletrônico. São Paulo: EdUSP, 2008. 739 p. ISBN 978-85-314-1055-0.

GAZIĆ, Lejla. Destruction of the Institute for Oriental Studies during the Aggression against Bosnia and Herzegovina 1950-2000.Sarajevo: Orijentalni Institut u Sarajevu, 2004. não paginado. Disponível em: https://web.archive.org/web/20040414223431/http://www.openbook.ba/bmss/. Acesso em: 03 abr. 2019.

O GLOBO e agências internacionais. Entenda o que foi o genocídio de Srebrenica durante a guerra da Bósnia. Rio de Janeiro: O Globo, 2017. não paginado. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/entenda-que-foi-genocidio-de-srebrenica-durante-guerra-da-bosnia-22096838. Acesso em: 02 abr. 2019.

KNUTH, Rebecca. Libricide: the regime-sponsored destruction of books and libraries in the twentieth century. Westport: Praeger, 2003. 277 p. ISBN 0-275-98088-X.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Editora UNICAMP, 1990. ISBN 85-268-0180-5.

MENESES, Paulo. Etnocentrismo e relativismo cultural: algumas reflexões. Revista de
Filosofia, Belo Horizonte, v. 27, n. 88, p. 245-254, 2000.

MURGUIA, Eduardo I. A memória e sua relação com arquivos, bibliotecas e museus. In: MURGUIA, Eduardo Ismael (Org.). Memória: um lugar de diálogo para arquivos, bibliotecas e museus. São Carlos: Compacta gráfica e editora, 2010. p. 11-32.

NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto história, São Paulo, n. 10, p. 7-28, dez. 1993. Tradução: Yara AunKhoury.

PEÑA, Juan Miguel P. El patrimonio cultural, bibliográfico y documental de la humanidade. Revisiones conceptuales, legislativas e informativas para uma educación sobre patrimonio. Cidade do México, Cuicuilco, n. 58, p. 31-57, sep./dic. 2013.

PEÑA, Juan Miguel P. La socialización del patrimonio bibliográfico y documental de la humanidad desde la perspectiva de los derechos culturales. Madrid, Revista General de Información y Documentación, v. 21, p. 291-312, 2011.

POLASTRON, Lucien X. Livros em chamas: a história da destruição sem fim das
bibliotecas. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013. 419 p. ISBN 978-85-03-01168-6.

POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 5, n. 10, p. 200-212, 1992. Esta conferência foi transcrita e traduzida por Monique Augras.

REITZ, Joan M. Online dictionary for library and information Science. Santa Barbara, CA: ABC-CLIO, 2014, não paginado. Disponível em: https://www.abcclio.com/ODLIS/odlis_l.aspx. Acesso em: 10 set. 2018.

REYES, Marcelo J. de los. Los conflitos en los Balcanes: la guerra civil em Yugoslavia y los intereses externos. IGADI, Espanha, p. 1-55, 01 feb. 2013. Disponível em: http://www.igadi.org/web/analiseopinion/los-conflictos-en-los-balcanes-la-guerra-civil-en-yugoslavia-y-los-intereses-externos. Acesso em: 22 set. 2018.

RIEDLMAYER, András J. [Correspondência]. Destinatário: Diana Marques. Rio de Janeiro, 28 mar. 2019. E-mail. Online.

RIEDLMAYER, András J. Crimes of War, Crimes of Peace: destruction of Libraries
during and after the Balkan Wars of the 1990s. Library Trends, v. 56, n. 1, p. 107-132,
summer 2007.

RODRIGUES, Donizete. Património cultural, Memória social e Identidade: uma abordagem antropológica. UBIMuseum, Beira Interior, n. 1, p. 45-52, 2012. ISSN 2182-6560.

ROMERO, Eladio G.; ROMERO, Iván C. Breve historia de la guerra de los Balcanes. Madrid: Nowtilus, 2016. ISBN 978-83-9967-807-8. Disponível em:
https://www.book2look.com/book/4OcVPVaWCy. Acesso em: 13 set. 2018.

SILVEIRA, Fabrício José N. da. Biblioteca, memória e identidade social. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 15, n. 3, p. 67-86, set./dez, 2010.

STAVENHAGEN, Rodolfo. Limpieza étnica. Cidade do México: Universidad Autónoma de México, jan. 2010.

STEINER, George. Aqueles que queimam livros. Belo Horizonte: Âyiné, 2018. 84 p. ISBN 978-85-92649-21-0.

TODOROV, Tzvetan. Memoria del mal, tentacion del bien: indagación sobre el siglo XX. Barcelona: Ediciones Península, 2002. 376 p.

UNESCO. What is documentar heritage? [S.l.]: UNESCO, 2017. Online. Disponível em: http://www.unesco.org/new/en/santiago/communication-information/memory-of-the-world-programme-preservation-of-documentary-heritage/what-is-documentary-heritage/. Acesso em: 11 nov. 2018.

VILLARELLO REZA, Rosamaría. La biblioclastia: entre los desastres naturales y las guerras. Biblioteca Universitária, Cidade do México, v. 9, n. 2, p. 108-119, jul./dic., 2006.

ZEĆO, Munevera. The National and University Library of Bosnia and Herzegovina during the Current War. The Library Quarterly: Information, Community, Policy, Chicago, v. 66, n. 3, p. 294-301, July 1996.

Downloads

Publicado

2022-10-06

Como Citar

dos Santos Marques, D., & Vieira de Freitas Araujo, A. (2022). Biblioteca Invisível: a biblioclastia na Guerra da Bósnia e Herzegovina (1992-1995). Perspectivas Em Ciência Da Informação, 27(3). Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci/article/view/25794

Edição

Seção

Artigos