Do praiar ao jobar
integrações conceptuais na criação de verbos no português brasileiro
DOI :
https://doi.org/10.17851/2237-2083.33.1.238-270Mots-clés :
linguística cognitiva, gramática de construções, mesclagem conceptual, neologismoRésumé
Este estudo explora aspectos linguístico-cognitivos na emergência de neologismos verbais — novas construções lexicais expressas como verbo para denotar ações. Nosso objeto de estudo inclui os neologismos de atividades de lazer bebemorar, canastrar, noronhar, praiar, resenhar, rolezar, turistar, brifar e de atividades profissionais jobar, performar, schedular, teletrabalhar e tradar. Nossa hipótese é que a criação dessas palavras reflete a necessidade de mesclar conhecimentos enciclopédicos em uma única construção lexical, que expressa determinado conceito de ação composto por um conjunto de atividades relacionadas ao frame semântico de um conceito de objeto, organizadas pela mesclagem conceptual. A pesquisa fundamenta-se na Gramática de Construções (Croft, 2022; Hoffmann, 2022a) e nos conceitos de Frame Semântico (Fillmore, 2006) e Mesclagem Conceptual (Fauconnier, Turner, 2006). Os dados foram coletados de perfis públicos das redes sociais Instagram, Twitter/X, TikTok e Youtube e confirmados como neologismos por ausência significativa em nossos corpora lexicográficos de corte. A análise revela a tendência de se combinar diferentes conhecimentos de mundo para criar um conceito de ação por meio da mesclagem de pelo menos dois domínios distintos, contidos em um frame semântico comum de um conceito de objeto. O neologismo praiar, por exemplo, mescla em uma construção vários grupos de atividades captadas no frame de Lazer, diretamente envolvidos no objeto locativo praia: atividades de descanso (tomar sol, ler), aquáticas (nadar, mergulhar), físicas (caminhar, praticar esportes), sociais (paquerar, frequentar bares), entre outras. Essas atividades são evocadas cognitivamente por meio de conhecimentos socioculturais e individuais.
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