O conceito de “representação” dos sistemas sígnicos/simbólicos
análise comparativa entre V. Volóchinov e E. Cassirer
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.33.3.7-28Palavras-chave:
representação, sistemas sígnicos, Marxismo e filosofia da linguagem, Filosofia das formas simbólicasResumo
Os conceitos de linguagem e de signo estão associados com o conceito de representação. É propriedade do signo a função de representar (um objeto, uma ideia etc.). Pode-se afirmar que um signo existe e se constitui enquanto tal à medida que representa algo. Volóchinov (2017) dedica-se, nos primeiros capítulos de Marxismo e filosofia da linguagem, a discutir o modo como ocorre a representação nos sistemas sígnicos. O filósofo alemão Ernst Cassirer (2001), ao conceber que nossa relação com o objeto é mediada por signos, também debate longamente esse tema da representação. Nesse sentido, este artigo objetiva analisar e comparar o conceito de “representação” delineado por Cassirer (2001) e a forma como Volóchinov (2017) trata desse conceito. Apontam-se similaridades e diferenças nos dois autores, para que se possa compreender como a representação dos sistemas sígnicos apresentada por Volóchinov se singulariza. Conclui-se que o conceito de “representação”, na filosofia cassireriana, é amplo e complexo, podendo ser considerado sob diferentes aspectos: como função simbólica; como constituição de sentido das formas simbólicas; como estruturação da consciência. O conceito de “representação”, em Volóchinov (2017), é mais preciso. Volóchinov adota a premissa, apresentada por Cassirer, segundo a qual nossa relação com o objeto é mediada por signos. O autor russo conclui que os sistemas sígnicos são representativos à medida que não se encerram em si mesmos, ao contrário dos objetos não semiotizados.
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