O carpinteiro e a madeira

a constituição de corpora jurídicos em perspectiva etnometodológica

Autores

  • Rubens Damasceno-Morais Universidade Federal de Goiás

DOI:

https://doi.org/10.17851/2237-2083.29.2.673-709

Palavras-chave:

etnometodologia, corpora, argumentação, tribunal, transcrição de dados orais

Resumo

Este artigo propõe-se a relatar uma experiência de pesquisa com corpora complexos, a fim de compartilhar o processo e procedimentos de elaboração de um banco de dados instituído precipuamente para pesquisa doutoral, empreendida na Université Lumière Lyon II/França, no laboratório ICAR, cuja especialidade é, justamente, o trabalho com a análise de corpora em diversos níveis de extensão e complexidade. A partir de uma perspectiva etnometodológica (MONDADA, 2008; OCHS, SCHEGLOFF, THOMPSON, 1996; SCHEGLOFF, 1999; TRAVERS, 2001; TRAVERSO, 2007), numa imersão em território jurídico (CORNU, 2005; DUPRET, 2006; LATOUR, 2004), a pesquisa ora relatada buscou descrever e analisar como os magistrados realizam a gestão do desacordo, em situações, muitas vezes, acentuadamente erísticas. Sem nos distanciarmos dos estudos teóricos acerca dos preceitos de metodologia de trabalhos acadêmicos em geral (GIL, 2002; MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010; SALOMON, 2014), constituímos um banco de dados balizados pela noção de situação argumentativa, uma noção da retórica antiga retomada por Plantin (1993, 1995, 1996, 2016), a qual põe em destaque situações de conflito de opiniões, em contextos argumentativos vários. A partir da exaustiva e intricada transcrição dupla dos dados (BAUDE, 2006; BLANCHE-BENVENISTE, 2008; KERBRAT-ORECCHIONI, 2006), a pesquisa culminou na confirmação de que o discurso jurídico está longe de ser frio e asséptico e que as interações argumentativas naquele contexto se analisadas no calor das deliberações têm muito a nos ensinar sobre o argumentar em contexto institucional. Isso pode ser conferido em quatro capítulos analíticos cujo planejamento e execução ora trazemos a lume, a partir do estudo do direito em ação, isto é, em situação de interação, por meio de deliberações de magistrados em processos de danos morais, num tribunal brasileiro de Segunda Instância.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Publicado

2024-10-06

Como Citar

DAMASCENO-MORAIS, R. O carpinteiro e a madeira: a constituição de corpora jurídicos em perspectiva etnometodológica. Revista de Estudos da Linguagem, [S. l.], v. 29, n. 2, p. 673–709, 2024. DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.673-709. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/relin/article/view/54214. Acesso em: 24 nov. 2024.

Edição

Seção

Thematic issue 29:2 (2021): Corpus Linguistics: Achievements and Challenges