Espraiamento da estase argumentativa em interações polêmicas do Twitter
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.31.3.1557-1589Palavras-chave:
polêmica, estase, modelo dialogal da argumentação, web 2.0Resumo
Este trabalho buscou compreender uma polêmica (Amossy, 2017) em redes sociais protagonizada por Xuxa Meneghel acerca da utilização de presidiários como cobaias em experimentos e a sua repercussão na rede social Twitter (Boyd; Ellison, 2008; Cabral, 2022; Kwak et al. 2010; Recuero; Zago, 2010), a partir da perspectiva do Modelo Dialogal da Argumentação – MDA (Plantin, 2008; discutido por Damasceno-Morais, 2019, 2020, 2023). A análise de interações dos internautas foi empreendida a fim de que se pudesse enxergar os movimentos estratégicos e argumentativos utilizados pelos interactantes em contextos de desacordos de opiniões, como é comum na web 2.0 (Paveau, 2021). Aqui, entendemos os desacordos de opiniões como “estase argumentativa”, a partir do MDA. Após exame detalhado do corpus, foi possível observar, sobretudo, o “espraiamento da estase argumentativa”, isto é, uma divergência de opiniões tão severa que leva ao silêncio do interlocutor. A partir dos dados coletados e perscrutados, constatou-se que as manifestações polêmicas de teor virulento se materializaram pelo emprego de argumentos ad hominem, ad personam e ad populum (Grácio, 2013; Plantin, 2016; Walton, 2006), a fim de invalidar, desautorizar e generalizar o posicionamento do outro e, ainda, desestimular a mecânica interacional, levando o oponente actancial ao abandono da discussão polêmica. Há, ainda, o silenciamento do interlocutor, procedimento característico do ringue erístico, uma reminiscência da antiga Retórica.
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