Do sofrimento individual à luta coletiva
as narrativas de engajamento de mães em movimentos sociais
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.31.1.250-277Palavras-chave:
narrativa, movimentos sociais, violência policialResumo
O estado do Rio de Janeiro soma o maior número de civis mortos (negros, em sua maioria) durante incursões policiais nas favelas. Contra essa violência e em busca de justiça, os familiares das vítimas têm se engajado em movimentos sociais como a Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência. Este artigo estuda o que chamo de narrativas de engajamento veiculadas nas manifestações por esses familiares, especialmente as mães, objetivando compreender a importância da narrativa para a transformação do luto dessas mulheres em ação política. A metodologia engloba a perspectiva qualitativa-interpretativista de pesquisa, com observação participante. Os dados foram gerados nas manifestações organizadas pela Rede. A análise foi orientada pela compreensão da narrativa como prática discursivo-interacional que organiza a experiência humana e sugere a existência de uma espécie de “padrão” que organiza as narrativas de engajamento dos participantes da Rede. A análise ainda identifica dois mecanismos discursivos entrelaçados: i) a racionalização dos eventos que levaram à morte do filho por meio de sistemas de coerência; ii) um movimento espiral que relaciona os eventos de ordem micro e macro na narrativa. O artigo finaliza destacando as narrativas de engajamento enquanto ferramenta desse movimento social para reivindicar suas demandas na esfera pública e resistir ao racismo estrutural.