Espraiamento da estase argumentativa em interações polêmicas do Twitter

Autores

Palavras-chave:

polêmica, estase, modelo dialogal da argumentação, web 2.0

Resumo

Este trabalho buscou compreender uma polêmica (Amossy, 2017) em redes sociais protagonizada por Xuxa Meneghel acerca da utilização de presidiários como cobaias em experimentos e a sua repercussão na rede social Twitter (Boyd; Ellison, 2008; Cabral, 2022; Kwak et al. 2010; Recuero; Zago, 2010), a partir da perspectiva do Modelo Dialogal da Argumentação – MDA (Plantin, 2008; discutido por Damasceno-Morais, 2019, 2020, 2023). A análise de interações dos internautas foi empreendida a fim de que se pudesse enxergar os movimentos estratégicos e argumentativos utilizados pelos interactantes em contextos de desacordos de opiniões, como é comum na web 2.0 (Paveau, 2021). Aqui, entendemos os desacordos de opiniões como “estase argumentativa”, a partir do MDA. Após exame detalhado do corpus, foi possível observar, sobretudo, o “espraiamento da estase argumentativa”, isto é, uma divergência de opiniões tão severa que leva ao silêncio do interlocutor. A partir dos dados coletados e perscrutados, constatou-se que as manifestações polêmicas de teor virulento se materializaram pelo emprego de argumentos ad hominem, ad personam e ad populum (Grácio, 2013; Plantin, 2016; Walton, 2006), a fim de invalidar, desautorizar e generalizar o posicionamento do outro e, ainda, desestimular a mecânica interacional, levando o oponente actancial ao abandono da discussão polêmica. Há, ainda, o silenciamento do interlocutor, procedimento característico do ringue erístico, uma reminiscência da antiga Retórica.

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Biografia do Autor

Lara Beatriz de Souza Teixeira, Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Goiás / Brasil

Graduanda pré-formanda na Universidade Federal de Goiás/UFG

Rubens Damasceno-Morais, Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Goiás / Brasil

Pesquisador e professor da Universidade Federal de Goiás/UFG.

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Publicado

2024-10-08