A rede polissêmica do verbo ficar em português L1 (Brasil) e em português L2 (aprendizes de língua francesa)
aquisição e didática
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.32.1.289-311Palavras-chave:
polissemia, aquisição de L2, PLE, verbo, teste experimentalResumo
Este artigo analisa como os sentidos do verbo ficar são utilizados em um teste de elicitação em português como primeira e segunda língua (L1/L2). O objetivo deste estudo é analisar a rede polissêmica desse verbo para dois grupos de participantes. Os significados mais prototípicos de uma palavra ou de uma construção têm sido operacionalizados em muitos estudos como os mais propostos em experiências de elicitação (Gries, 2015, p.473). Os participantes de português L1 foram instruídos a elicitar três frases com o verbo ficar em um tempo reduzido e com o pedido explícito de não refletirem demasiadamente. Em um outro momento, solicitamos aos aprendizes de português (L2) a fazerem esse mesmo exercício, e também a traduzirem suas frases para o francês. A tradução permitiu uma compreensão clara do significado que eles desejavam transmitir ao verbo ficar em L2, além de possibilitar uma análise dos verbos utilizados na tradução. Os resultados revelaram uma organização diferente da rede polissêmica do verbo ficar em L1 e L2, com uma presença mais marcada de significados concretos no grupo de L2 e uma presença mais proeminente de significados abstratos no grupo de L1. A análise também relevou uma pequena variação entre os resultados dos participantes com um nível inicial de português L2 e níveis mais avançados. Esse fato evidencia as dificuldades na aquisição de verbos frequentes e polissêmicos em L2 e corrobora as tendências observadas na literatura.
Downloads
Referências
ALMEIDA, A.; SANTOS, E. (eds.), Linguística cognitiva. Redes de conhecimento d’aquém e d’além mar. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia - EDUFBA, 2018. p. 161-18.
BAYAN FERREIRA, A., José, BAYAN, H., Na crista da onda 1, 2, 3 et 4. [S. l.]: Lisboa: Lidel, 2018.
BERNARDON DE OLIVEIRA, K; GÓMEZ VICENTE, L. CORPUS CALMER [Corpus]. ORTOLANG (Open Resources and TOols for LANGuage) - www.ortolang.fr, v1, 2020. https://hdl.handle.net/11403/corpus-calmer/v1.
CARREIRA, M.; BOUDOY, M. Pratique du Portugais de A à Z. Paris: Hatier, 1993.
COIMBRA, O.; COIMBRA, I. Gramática Activa 1. Lisboa: Lidel, 2011.
COIMBRA, O.; COIMBRA, I. Gramática Activa 2. 3a. ed. Lisboa: Lidel, 2012.
COIMBRA, O.; COIMBRA, I. Português sem fronteiras 1. Lisboa: Lidel, 2011.
DE L’EUROPE, Conseil. Cadre européen commun de référence pour les langues: apprendre, enseigner, évaluer. Council of Europe, 2003.
DIAS, A.; FROTA, S. Nota 10 - português do Brasil. Lisboa: Lidel, 2015.
FERNANDES, G. Muito prazer. Barueri:Disal, 2010.
FERNANDES, E.; DE OLIVEIRA SILVA, L.; ALMEIDA, C.; MELLO, T. Plural: Português pluricêntrico. Roosvelt, New Jersey: Boavista Press (Segunda ediçâo), 2023.
GLYNN, D. Polysemy and synonymy Cognitive theory and corpus method. In: GLYNN, D.; ROBINSON, J. (eds.), Corpus methods for semantics: Quantitative studies in polysemy and synonymy. Amsterdam: Benjamins, 2014. p. 7–38
GÓMEZ VICENTE, L. Quedar: entre cambio y permanencia. In: BULAT SILVA, Z.; ADAM STEPIEN, M. (eds.) Estudios Hispánicos, Vol. XIX. Wroclaw: Université de Wroclaw, 2011. p. 51-60.
GÓMEZ VICENTE, L. Description, acquisition and teaching of polysemous verbs: the case of quedar. International Review of Applied Linguistics in Language Teaching, Berlin/Boston, v. 57, n.1, p. 21-44, 2018. DOI: 10.1515/iral-2018-2005
GRIES, S. Polysemy. In: DĄBROWSKA, E.; DIVJAK, D. (eds.), Handbook of Cognitive Linguistics. Berlim/Boston: De Gruyter Mouton, 2015. p. 472-490.
HOUAISS, A. et al. Dicionário eletrônico houaiss da língua portuguesa. CD-ROM. Versão monousuário 2.0. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.
IBARRETXE-ANTUÑANO, I.;CHEIKH-KHAMIS, F. “How to become a woman without turning into a Barbie: Change-of-state verb constructions and their role in Spanish as a Foreign Language. International Review of Applied Linguistics in Language Teaching, Berlin/Boston, v. 57, n. 1, p. 97-120, 2019. DOI: https://doi.org/10.1515/iral-2018-2008
JIMÉNEZ CALDERÓN, F.; SÁNCHEZ RUFAT, A. La enseñanza de verbos frecuentes a partir de enfoques léxicos. Verba Hispanica, Liubliana, v. 27, n.1, p. 131-151, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.4312/vh.27.1.131-151
KÄLLKVIST, M. Lexical infelicity in English: the case of nouns and verbs. In: HAASTRUP, KIRSTEN, VIBERG, Å. (eds.) Perspectives on Lexical Acquisition in a Second Language. Lund, Suécia: Lund University Press, 1998. p. 149-174.
KUZKA, R.; PASCOAL, J. Passaporte para Português 1. Lisboa:Lidel, 2014.
KUZKA, R.; PASCOAL, J. Passaporte para Português 2. Lisboa: Lidel, 2016.
LANGACKER, R. Foundations of Cognitive Grammar: Theoretical Prerequisites (vol. I). Stanford, Estados Unidos: Stanford University Press, 1987.
LAUFER, B. Whay are some words more difficult than others? Some intralexical factors that affect the learning of words. International Review of Applied Linguistics, Berlin/Boston, v. 28, n.4, p. 293-308, 1990. DOI: https://doi.org/10.1515/iral.1990.28.4.293
LENNON, P. Getting ‘easy’ verbs wrong at the advanced level. International Review of Applied Linguistics, Berlin/Boston, v.34, n.1, p. 23-36, 1996.
LEHMANN, C. A auxiliarização de ‘ficar’. Linhas gerais. In: ALMEIDA, M.; BERND, S.; BERNARDO, A. (eds.). Questions on language change. Lisboa: Colibri, 2008. p. 9-26.
LIMA, E.; LUNES, S. Falar… ler… escrever…um curso para estrangeiros. 2a. ed. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária - EPU, 2001.
LIMA, E.; ROHRMANN, L.; ISHIHARA, T.; LUNES, S.; BERGWEILER, C. Novo avenida Brasil 1: Curso básico de português para estrangeiros. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária - EPU, 2009.
MAGARREIRO, V.; CONCEIÇÃO, D.; CAÇADOR, R. Português Ativo para o mundo profissional. Lisboa:Lidel, 2022.
MATA, O., COIMBRA, I.. Português sem fronteiras 1. Lisboa:Lidel, 2011.
MATA, O; COIMBRA, I. Novo avenida Brasil 2: Curso básico de português para estrangeiros. São Paulo: Editora Pedagogica e Universitaria - EPU, 2009.
MATA, O; COIMBRA, I. Novo avenida Brasil 3: Curso básico de português para estrangeiros. São Paulo: Editora Pedagogica e Universitaria - EPU, 2009.
PALOMANES RIBEIRO, R. (2004). A expansão de sentidos do verbo ficar e os mecanismos responsáveis pela organização cognitiva de suas significações. Revista Eletrônica do Instituto de Humanidades, v. II, n. VIII, p.1-8, 2004.
PERINI, M. Gramática Descritiva do Português. 4a. ed. São Paulo: Ática, 2005.
REDMOND, L. Acquisition de la polysémie du verbe ”prendre” par des apprenants du français L2. 2017. (Tese de Doutorado em Linguística), Université Michel de Montaigne - Bordeaux III; Université du Québec à Montréal.
REDMOND, L.; EMIRKANIAN, L. Analyse de la polysémie verbale: apports à la didactique du français L2. SHS Web of Conferences 46, 07007, 2018. DOI: https://doi.org/10.1051/shsconf/20184607007
REBELO, I; OSÓRIO, P. Contribuições para uma descrição semântica do verbo “ficar”: o que os manuais de Português Língua Estrangeira (PLE) não dizem. DOMÍNIOS DE LINGU@GEM, Uberlândia, v.1, n.1, p.1-20, 2007. DOI: https://doi.org/10.14393/DL1-v1n1a2007-6
SALES ARAÚJO, N.; PANIGASSI VICENTINI, M.; BOEING MARCELINO, A. A cara do Brasil: português para estrangeiros – nível intermediário. São Luís: Editora da Universidade Federal do Maranhão - EDUFMA, 2023.
SENA-LINO, P.; MANSO BOLÉO, M. J., Novas cidades do Mar B1. Porto:Porta Editora, 2021.
SOARES DA SILVA, A. Polissemia e contexto: o problema duro da diferenciação de sentidos. Revista do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, v.5, p. 353-367, 2010.
SOARES DA SILVA, A. Polissemia na mente, na cultura e no discurso para uma abordagem cognitiva mais dinâmica e contextualizada da individuação, relação e mudança de sentidos. In:
TAYLOR, J. Linguistic categorization. Oxford: Oxford University Press. 2003
TEYSSIER, P. Manuel de langue portugaise. Paris: Klincksieck, 2002.
VIBERG, Å. Basic verbs in second language acquisition. Revue française de linguistique appliquée, v.VII, n.2, p. 61-79, 2002. DOI: https://doi.org/10.3917/rfla.072.0061.
VIBERG, Å. Language-specific meanings in contrast: A corpus-based contrastive study of Swedish få ‘get’. Linguistics, Berlin/Boston, v.50, n.6, p.1413-1461, 2012
WAARA, R. Construal, Convention, and Constructions in L2 Speech. In: ACHARD, M.; NIEMEIER, S. (eds.), Cognitive Linguistics, Second Language Acquisition and Foreign Language Teaching, 2004. p. 51-75.
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [digital], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/ Acesso em 14 de agosto de 2021.