v. 3 n. 1 (2022): Dossiê - Da crítica ao dispositivo da propriedade à aposta no comum: corpos, colonialidades, mundos (jan/jun 2022)
Dossiê especial

A propriedade é um dispositivo?

Ana Suelen Tossige Gomes
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil
Biografia

Publicado 06-09-2022

Palavras-chave

  • propriedade,
  • dispositivo,
  • modernidade,
  • arqueologia,
  • subjetivação

Como Citar

GOMES, A. S. T. A propriedade é um dispositivo?. (Des)troços: revista de pensamento radical, Belo Horizonte, v. 3, n. 1, p. 13–36, 2022. DOI: 10.53981/destroos.v3i1.40260. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadestrocos/article/view/40260. Acesso em: 19 mar. 2024.

Resumo

A partir da análise de discursos político-jurídicos paradigmáticos, que permearam a consolidação da propriedade moderna, compreendida aqui como noção e como instituto, pretende-se verificar se é correta a interpretação de que a propriedade se instituiu como um dispositivo. Para tanto, quatro características da forma de operar do dispositivo – tal como teorizado por Heidegger, Foucault e Agamben – foram selecionadas como guia para a análise: 1) resposta a um objetivo estratégico ou à produção de um resultado útil; 2) divisão bipolar da realidade; 3) imposição de certo direcionamento sobre o real; e, 4) captura do sujeito como parte ou “peça” do processo. Do trabalho foi possível constatar que tais características se encontram presentes em pontos nodais de emergência da propriedade moderna, respondendo positivamente à pergunta presente no título deste artigo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

  1. ABREU, Maurício A. European conquest, Indian subjection and the conflicts of colonization: Brazil in the early modern era. GeoJournal, v. 60, pp. 365-373, 2004.
  2. AGAMBEN, Giorgio. Che cos’è un dispositivo. Roma: Nottetempo, 2006.
  3. AGAMBEN, Giorgio. Poiesis e praxis. In: AGAMBEN, Giorgio. L’uomo senza contenuto. Macerata: Quodlibet, pp. 103-141, 1994.
  4. ARENDT, Hannah. A condição humana. 10. ed. Trad. Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.
  5. CALASSO, Francisco. Medio evo del diritto. Milano: A. Giuffre, 1954.
  6. CHIGNOLA, Sandro. Sobre o dispositivo: Foucault, Agamben, Deleuze. In: Cadernos IHU Ideias. n. 214, v. 12, Porto Alegre: Instituto Humanitas Unisinos, 2014.
  7. DELEUZE, Gilles. Les plissements ou le dedans de la pensée. In: DELEUZE, Gilles. Foucault. Paris: Les Éditions de Minut, 2004.
  8. DELEUZE, Gilles. Qu’est-ce qu’un dispositif? In: Michel Foucault philosophe: rencontre internationale, 9, 10, 11 jan. 1988; Paris: Seuil, 1989.
  9. DEMOLOMBE, Cours de Code Napoleón: traité de la distinction des biens. Paris: A. Lahure, 1881.
  10. ESPOSITO, R. Due: la macchina della teologia política e il posto del pensiero. Torino: Einaudi, 2013. [E-book].
  11. ESPOSITO, Roberto. Politica e negazione. Torino: Einaudi, 2018.
  12. FOUCAULT, Michel. Le jeu de Michel Foucault. In: FOUCAULT, Michel. Dits et écrits III – 1976-1979. Paris: Gallimard, pp. 298-329, 1994.
  13. FRANCISCO. A regra não aprovada da Ordem dos Frades Menores. In: FRANCISCO. Os escritos de São Francisco de Assis. 4. ed. Intr., trad. e comentários Kajetan Esser e Lothar Hardick. Petrópolis: Vozes, pp. 109-130, 1979.
  14. GOMES, Ana Suelen Tossige. Dominio voluntatis: pobreza e subjetividade proprietária. In: GOMES, Ana Suelen Tossige. Um novelo improfanável? Arqueologia do dispositivo da propriedade. 2021. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito e Ciências do Estado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, pp. 109-130, 2021.
  15. GOMES, Ana Suelen Tossige. Homines terrae/communitas terrae. In: GOMES, Ana Suelen Tossige. Um novelo improfanável? Arqueologia do dispositivo da propriedade. 2021. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito e Ciências do Estado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, pp. 76-97, 2021.
  16. GOMES, Ana Suelen Tossige. Um novelo improfanável? Arqueologia do dispositivo da propriedade. 2021. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito e Ciências do Estado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2021.
  17. GREER, Allan. Commons and enclosure in the colonization of North America. The American Historical Review, v. 117, n. 2, pp. 365-386, 2012.
  18. GROSSI, Paolo. La seconda scolastica nella formazione del diritto privato moderno. Milano: Giuffrè, 1972.
  19. GROSSI, Paolo. Un altro modo di possedere: l’emersione di forme alternative di proprietà alla coscienza giuridica postunitaria. Milano: Giuffrè, 1977.
  20. GROSSI, Paolo. Usus facti: la nozione di proprietà nella inaugurazione dell'età nuova. Quaderni Fiorentini per la storia del pensiero giuridico moderno I. Milano: Giuffrè, 1972.
  21. HEGEL, Georg Wilhem Friedrich. Fenomenologia do espírito. Trad. Paulo Menezes. São Paulo: Vozes, 2003.
  22. HEIDEGGER, Martin. L’impianto. In: HEIDEGGER, Martin. Conferenze di Brema e Friburgo. A cura di Petra Jaeger. Edizione italiana a cura di Franco Volpi. Trad. Giovanni Gurisatti. Milano: Adelphi, pp. 45-70, 2002.
  23. HEIDEGGER, Martin. La metafisica come storia dell’essere. In: HEIDEGGER, Martin. Nietzsche. A cura di Franco Volpi. Trad. Franco Volpi. Milano: Adelphi, pp. 863-908, 1994.
  24. HEIDEGGER, Martin. La questione della tecnica. In: HEIDEGGER, Martin. Saggi e discorsi. A cura di Gianni Vattimo. Trad. Gianni Vattimo. Milano: Mursia: 1991. pp. 5-27.
  25. HEIDEGGER, Martin. Le dispositif. Trad. Servanne Jollivet. Po&sie, Paris, v. 1, n. 115, pp. 7-24, 2006. Disponível em: https://www.cairn.info/revue-poesie-2006-1-page-7.htm. Acesso em: 21 mai. 2021.
  26. HOBBES, Thomas. Elementi filosofici sul cittadino. A cura di Norberto Bobbio. Torino: Tipografia Torinense, 1948.
  27. KELLEY, Donald R.; SMITH, Bonnie G. What was property? Legal dimensions of the social question in France (1789-1848). Proceedings of the American Philosophical Society, v. 128, n. 3, 1984.
  28. KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Trad. Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
  29. LOCKE, John. Second treatise of government. Cambridge: Hackett Publishing Company, 1980.
  30. LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. In: LOCKE, John. Carta acerca da tolerância, Segundo tratado sobre o governo, Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, pp. 37-137, 1973.
  31. MAINGUENEAU, Dominique. Analisando discursos constituintes. Trad. Nelson Barros da Costa. Revista do Gelnei, v. 2, n. 1, pp. 1-12, 2016.
  32. MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Trad. Jesus Ranieri. São Paulo: Boitempo, 2010.
  33. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stiner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas. Trad. Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano. São Paulo: Boitempo, 2007.
  34. MENESTÒ, Enrico; BRUFANI, Stefano. Regula non bullata. Fontes Franciscani. Assis: Edizioni Porziuncola, 1995. In: AGUIAR, Verônica Aparecida Silveira. A construção da norma no movimento franciscano: regulae e testamentum nas práticas jurídicas mendicantes (1210-1323). 2010. Dissertação (Mestrado em História) – Departamento da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
  35. PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
  36. PROUDHON, Jean Baptiste Victor. Traité du domaine de propriété. Cans: Meline, 1842.
  37. REVISTA DO ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO. Cartas de sesmaria. Disponível em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/rapm/search.php?query=sesmaria&ordenar=10&asc_desc=10&action=showall&andor=AND&start=0. Acesso em 08 nov. 2021.
  38. RODOTÀ, Stefano. Note sul diritto di proprietà e l’origine dell’articolo 544 del Code Civil. Quaderni storici delle Marche, v. 3, n. 9, pp. 361-401, 1968.
  39. RODOTÀ, Stefano. Note sul diritto di proprietà e l’origine dell’articolo 544 del Code Civil. Quaderni storici delle Marche, v. 3, n. 9, pp. 361-401, 1968.
  40. SCATTOLA, Merio. Domingo de Soto e la fondazione della scuola di Salamanca. Veritas, v. 54, n. 3, pp. 52-70, 2009.
  41. SCHMITT, Carl. O nomos da terra no direito das gentes do jus publicum europeaum. Trad. Alexandre Franco de Sá, Bernardo Ferreira, José Maria Arruda e Pedro Hermílio Villas Bôas Castelo Branco. Rev. Técnica Bernardo Ferreira. Rio de Janeiro: Contraponto/Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2014.
  42. SOTO, Domingo de. De la justicia e del derecho. Madrid: Instituto de Estudios Politicos, 1968.
  43. STIMILLI, Elettra. Il debito del vivente: ascesi e capitalismo. Torino: Quodlibet, 2011.
  44. TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Vol. VI (II Seção da II Parte – Questões 57-122). Trad. Aldo Vannucchi et al. São Paulo: Edições Loyola, 2012.
  45. TROPLONG, Raymond Theodore. De la propriété d’aprés le Code Civil. Paris: Paulin ET, 1848.
  46. TULLY, James. A discurse on property: John Locke and his adversaries. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
  47. VIDAL, Michel. La propriété dans l’École de l’exegese en France. Quaderni Fiorentini per la storia del pensiero giuridico moderno, v. 5-6, n. 1, pp. 7-40, 1976-1977.
  48. VITORIA, Francisco de. Relectiones: sobre os índios e sobre o poder civil. Brasília: Universidade de Brasília, 2016.
  49. VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. Os involuntários da pátria. Belo Horizonte: Edições Chão da Feira, 2017. Disponível em: https://chaodafeira.com/wp-content/uploads/2017/05/SI_cad65_eduardoviveiros_ok.pdf. Acesso em: 21 ago. 2020.
  50. WALDRON, Jeremy. The right to private property. Oxford: Clarendon Press, 1988.
  51. WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Trad. José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
  52. XIFARAS, Mikhail. La propriété: étude de philosophie du droit. Paris: Presses Universitaires de France, 2004.