Publicado 06-09-2022
Palavras-chave
- propriedade,
- dispositivo,
- modernidade,
- arqueologia,
- subjetivação
Copyright (c) 2022 (Des)troços: revista de pensamento radical

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Como Citar
Resumo
A partir da análise de discursos político-jurídicos paradigmáticos, que permearam a consolidação da propriedade moderna, compreendida aqui como noção e como instituto, pretende-se verificar se é correta a interpretação de que a propriedade se instituiu como um dispositivo. Para tanto, quatro características da forma de operar do dispositivo – tal como teorizado por Heidegger, Foucault e Agamben – foram selecionadas como guia para a análise: 1) resposta a um objetivo estratégico ou à produção de um resultado útil; 2) divisão bipolar da realidade; 3) imposição de certo direcionamento sobre o real; e, 4) captura do sujeito como parte ou “peça” do processo. Do trabalho foi possível constatar que tais características se encontram presentes em pontos nodais de emergência da propriedade moderna, respondendo positivamente à pergunta presente no título deste artigo.
Referências
- ABREU, Maurício A. European conquest, Indian subjection and the conflicts of colonization: Brazil in the early modern era. GeoJournal, v. 60, pp. 365-373, 2004.
- AGAMBEN, Giorgio. Che cos’è un dispositivo. Roma: Nottetempo, 2006.
- AGAMBEN, Giorgio. Poiesis e praxis. In: AGAMBEN, Giorgio. L’uomo senza contenuto. Macerata: Quodlibet, pp. 103-141, 1994.
- ARENDT, Hannah. A condição humana. 10. ed. Trad. Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.
- CALASSO, Francisco. Medio evo del diritto. Milano: A. Giuffre, 1954.
- CHIGNOLA, Sandro. Sobre o dispositivo: Foucault, Agamben, Deleuze. In: Cadernos IHU Ideias. n. 214, v. 12, Porto Alegre: Instituto Humanitas Unisinos, 2014.
- DELEUZE, Gilles. Les plissements ou le dedans de la pensée. In: DELEUZE, Gilles. Foucault. Paris: Les Éditions de Minut, 2004.
- DELEUZE, Gilles. Qu’est-ce qu’un dispositif? In: Michel Foucault philosophe: rencontre internationale, 9, 10, 11 jan. 1988; Paris: Seuil, 1989.
- DEMOLOMBE, Cours de Code Napoleón: traité de la distinction des biens. Paris: A. Lahure, 1881.
- ESPOSITO, R. Due: la macchina della teologia política e il posto del pensiero. Torino: Einaudi, 2013. [E-book].
- ESPOSITO, Roberto. Politica e negazione. Torino: Einaudi, 2018.
- FOUCAULT, Michel. Le jeu de Michel Foucault. In: FOUCAULT, Michel. Dits et écrits III – 1976-1979. Paris: Gallimard, pp. 298-329, 1994.
- FRANCISCO. A regra não aprovada da Ordem dos Frades Menores. In: FRANCISCO. Os escritos de São Francisco de Assis. 4. ed. Intr., trad. e comentários Kajetan Esser e Lothar Hardick. Petrópolis: Vozes, pp. 109-130, 1979.
- GOMES, Ana Suelen Tossige. Dominio voluntatis: pobreza e subjetividade proprietária. In: GOMES, Ana Suelen Tossige. Um novelo improfanável? Arqueologia do dispositivo da propriedade. 2021. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito e Ciências do Estado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, pp. 109-130, 2021.
- GOMES, Ana Suelen Tossige. Homines terrae/communitas terrae. In: GOMES, Ana Suelen Tossige. Um novelo improfanável? Arqueologia do dispositivo da propriedade. 2021. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito e Ciências do Estado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, pp. 76-97, 2021.
- GOMES, Ana Suelen Tossige. Um novelo improfanável? Arqueologia do dispositivo da propriedade. 2021. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito e Ciências do Estado, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2021.
- GREER, Allan. Commons and enclosure in the colonization of North America. The American Historical Review, v. 117, n. 2, pp. 365-386, 2012.
- GROSSI, Paolo. La seconda scolastica nella formazione del diritto privato moderno. Milano: Giuffrè, 1972.
- GROSSI, Paolo. Un altro modo di possedere: l’emersione di forme alternative di proprietà alla coscienza giuridica postunitaria. Milano: Giuffrè, 1977.
- GROSSI, Paolo. Usus facti: la nozione di proprietà nella inaugurazione dell'età nuova. Quaderni Fiorentini per la storia del pensiero giuridico moderno I. Milano: Giuffrè, 1972.
- HEGEL, Georg Wilhem Friedrich. Fenomenologia do espírito. Trad. Paulo Menezes. São Paulo: Vozes, 2003.
- HEIDEGGER, Martin. L’impianto. In: HEIDEGGER, Martin. Conferenze di Brema e Friburgo. A cura di Petra Jaeger. Edizione italiana a cura di Franco Volpi. Trad. Giovanni Gurisatti. Milano: Adelphi, pp. 45-70, 2002.
- HEIDEGGER, Martin. La metafisica come storia dell’essere. In: HEIDEGGER, Martin. Nietzsche. A cura di Franco Volpi. Trad. Franco Volpi. Milano: Adelphi, pp. 863-908, 1994.
- HEIDEGGER, Martin. La questione della tecnica. In: HEIDEGGER, Martin. Saggi e discorsi. A cura di Gianni Vattimo. Trad. Gianni Vattimo. Milano: Mursia: 1991. pp. 5-27.
- HEIDEGGER, Martin. Le dispositif. Trad. Servanne Jollivet. Po&sie, Paris, v. 1, n. 115, pp. 7-24, 2006. Disponível em: https://www.cairn.info/revue-poesie-2006-1-page-7.htm. Acesso em: 21 mai. 2021.
- HOBBES, Thomas. Elementi filosofici sul cittadino. A cura di Norberto Bobbio. Torino: Tipografia Torinense, 1948.
- KELLEY, Donald R.; SMITH, Bonnie G. What was property? Legal dimensions of the social question in France (1789-1848). Proceedings of the American Philosophical Society, v. 128, n. 3, 1984.
- KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Trad. Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
- LOCKE, John. Second treatise of government. Cambridge: Hackett Publishing Company, 1980.
- LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. In: LOCKE, John. Carta acerca da tolerância, Segundo tratado sobre o governo, Ensaio acerca do entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, pp. 37-137, 1973.
- MAINGUENEAU, Dominique. Analisando discursos constituintes. Trad. Nelson Barros da Costa. Revista do Gelnei, v. 2, n. 1, pp. 1-12, 2016.
- MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos. Trad. Jesus Ranieri. São Paulo: Boitempo, 2010.
- MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stiner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas. Trad. Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano. São Paulo: Boitempo, 2007.
- MENESTÒ, Enrico; BRUFANI, Stefano. Regula non bullata. Fontes Franciscani. Assis: Edizioni Porziuncola, 1995. In: AGUIAR, Verônica Aparecida Silveira. A construção da norma no movimento franciscano: regulae e testamentum nas práticas jurídicas mendicantes (1210-1323). 2010. Dissertação (Mestrado em História) – Departamento da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
- PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
- PROUDHON, Jean Baptiste Victor. Traité du domaine de propriété. Cans: Meline, 1842.
- REVISTA DO ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO. Cartas de sesmaria. Disponível em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/rapm/search.php?query=sesmaria&ordenar=10&asc_desc=10&action=showall&andor=AND&start=0. Acesso em 08 nov. 2021.
- RODOTÀ, Stefano. Note sul diritto di proprietà e l’origine dell’articolo 544 del Code Civil. Quaderni storici delle Marche, v. 3, n. 9, pp. 361-401, 1968.
- RODOTÀ, Stefano. Note sul diritto di proprietà e l’origine dell’articolo 544 del Code Civil. Quaderni storici delle Marche, v. 3, n. 9, pp. 361-401, 1968.
- SCATTOLA, Merio. Domingo de Soto e la fondazione della scuola di Salamanca. Veritas, v. 54, n. 3, pp. 52-70, 2009.
- SCHMITT, Carl. O nomos da terra no direito das gentes do jus publicum europeaum. Trad. Alexandre Franco de Sá, Bernardo Ferreira, José Maria Arruda e Pedro Hermílio Villas Bôas Castelo Branco. Rev. Técnica Bernardo Ferreira. Rio de Janeiro: Contraponto/Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2014.
- SOTO, Domingo de. De la justicia e del derecho. Madrid: Instituto de Estudios Politicos, 1968.
- STIMILLI, Elettra. Il debito del vivente: ascesi e capitalismo. Torino: Quodlibet, 2011.
- TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Vol. VI (II Seção da II Parte – Questões 57-122). Trad. Aldo Vannucchi et al. São Paulo: Edições Loyola, 2012.
- TROPLONG, Raymond Theodore. De la propriété d’aprés le Code Civil. Paris: Paulin ET, 1848.
- TULLY, James. A discurse on property: John Locke and his adversaries. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
- VIDAL, Michel. La propriété dans l’École de l’exegese en France. Quaderni Fiorentini per la storia del pensiero giuridico moderno, v. 5-6, n. 1, pp. 7-40, 1976-1977.
- VITORIA, Francisco de. Relectiones: sobre os índios e sobre o poder civil. Brasília: Universidade de Brasília, 2016.
- VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo B. Os involuntários da pátria. Belo Horizonte: Edições Chão da Feira, 2017. Disponível em: https://chaodafeira.com/wp-content/uploads/2017/05/SI_cad65_eduardoviveiros_ok.pdf. Acesso em: 21 ago. 2020.
- WALDRON, Jeremy. The right to private property. Oxford: Clarendon Press, 1988.
- WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. Trad. José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
- XIFARAS, Mikhail. La propriété: étude de philosophie du droit. Paris: Presses Universitaires de France, 2004.