v. 4 n. 1 (2023): Dossiê - An-arquia e anarquismos (jan/jun 2023)
Dossiê especial

Xangô: como anarquizar uma sociedade bem ordenada

Adalberto Arcelo
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil
Biografia
Joaquim Leonardo Lopes Louzada de Freitas
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil
Biografia

Publicado 12-09-2023

Palavras-chave

  • cultura híbrida,
  • decolonialidade,
  • filosofias africanas,
  • justiça como equidade,
  • justiças pluriversais

Como Citar

ADALBERTO ANTONIO BATISTA ARCELO; FREITAS, J. L. L. L. de. Xangô: como anarquizar uma sociedade bem ordenada. (Des)troços: revista de pensamento radical, Belo Horizonte, v. 4, n. 1, p. e46405, 2023. DOI: 10.53981/destroos.v4i1.46405. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadestrocos/article/view/46405. Acesso em: 28 abr. 2024.

Resumo

Este trabalho propõe uma análise da estrutura de conhecimento moderno-colonial, materializada na teoria da justiça de John Rawls, vez que esta atualiza o paradigma da consciência como condição de possibilidade da ordem do discurso, redimensionando a linha abissal entre o ser e o não ser, transformando-a em vala comum para o depósito, a subalternização e a eliminação de corpos e de existências não brancas. Neste cenário, a teoria da justiça de Rawls repercute como uma teoria racializada, contribuindo para a exclusão de corpos orientados por outras cosmovisões — não ocidentais — do acesso a um pretenso sistema racional de justiça. Trata-se de uma imparcialidade farsante, operacionalizada através da abstração das relações sociopolíticas e raciais. Percebe-se que a aplicação desse sistema simbólico no contexto brasileiro, fortemente marcado pelo hibridismo cultural constitutivo de nossa genealogia, redunda na atualização de tradições subalternizantes e subalternizadas — daí a urgência em se atentar para possibilidades de deliberação por justiças pluriversais. Subsídios fornecidos pela filosofia social crítica e decolonial são empregados para impulsionar a visibilização de tradições pretas ancestrais e, especificamente, de saberes e poderes dos Orixás Exu e Xangô. Promove-se, assim, concepções transculturais de justiça, habilitadas a superar a perversa linha abissal subjacente a narrativas de justiça desumanizantes.

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