Abdicatio iuris: Giorgio Agamben e a inapropriabilidade da paisagem

Resumo

O artigo discute a relação entre justiça e inapropriabilidade na obra de Agamben e estende sua reflexão sobre a paisagem aos domínios da vegetalidade. A razão para essa escolha é que, ao contrário de outros tópicos em sua obra, como a nuda vida, a linguagem ou a teologia política, a paisagem não recebeu a discussão político-filosófica que merece. O artigo está, portanto, dividido em três partes. A primeira parte argumenta sobre a necessidade de abdicar da lei para entender a inadequação como uma condição de justiça. A segunda parte define a paisagem dentro da estrutura da inapropriabilidade e problematiza sua importância fora de um horizonte estético e legal. A terceira parte postula, com base em alguns dos argumentos de Agamben, uma noção de justiça vegetal como uma extensão de sua tese sobre a inapropriabilidade na estrutura da pluralidade de formas de vida não humanas. A conclusão é que a justiça depende, para sua realização, da inapropriabilidade, na medida em que a justiça não é uma virtude ética nem um programa institucional: ela constitui uma experiência no mundo que pode ser apreendida mais claramente por meio da paisagem.