[Chamada para (in)submissões] Dossiê #9 – Para uma crítica da razão (de)colonial (1º/2025)

03-04-2024

Recebimento de trabalhos no formato de artigos científicos, ensaios, resenhas, entrevistas, textos literários, imagens ou outros formatos que reflitam sobre a temática, com prazo até o dia 31 de agosto de 2024.

O conceito de “virada decolonial” foi cunhado para se referir à posição insurgente de singularidades que, cientes de que as significações erigidas pelo colonialismo europeu não podem ser confinadas dentro dos seus estritos limites temporais (final do século XV até meados do século XX), passaram a colocar em xeque o modo como continuam a grassar em nossos “Estados independentes com sociedades coloniais” na forma de uma colonialidade do ser, do poder e do saber. Se a moderna maquinaria epistêmica ocidental, imbuída de uma carência de considerações sobre o papel assumido pela geopolítica e pela espacialidade na produção do conhecimento, pretendeu construir um sujeito epistêmico neutro, capaz de se colocar para além da realidade na qual está inserido e, assim, estruturar um conhecimento abstrato com pretensões de aplicação universal, os teóricos e as teóricas decoloniais e aqueles que fazem uso de seus constructos teóricos buscam se colocar na contramarcha de tal tendência e intervir na discursividade das ciências modernas a fim de configurarem outros paradigmas para a produção de conhecimento.

No entanto, é corrente a prática acadêmica que se esquece de que a crítica ao “totalitarismo epistêmico” ocidental não se encerra em si mesma, haja vista que contém argumentos propositivos que nos convidam a estabelecer um diálogo crítico entre diversos projetos epistemológicos, em uma postura que se afasta dos fundamentalismos, perniciosos tanto na sua versão eurocêntrica quanto em sua faceta de “populismo epistêmico” – que parte do pressuposto de que o conhecimento produzido por singularidades subalternizadas seja, de partida e sem qualquer crítica, um conhecimento contestatório.

Nesse sentido, este dossiê visa congregar trabalhos que, aceitando a premissa de que a massiva importação acrítica de teorias pensadas em e para outras realidades histórico/sociais nos fez herdeiros de uma prática epistemológica submissa e reticente, assumem o desafio da “desobediência epistêmica”, que não pretende levar a cabo uma negação pura e simples de todo o aparato teórico europeu, e sim dele fazer um uso estratégico. Dessa forma, a proposição aqui é de reunião de artigos que visem somar na conjugação de esforços para a descolonização do conhecimento, os quais, por meio de uma aplicabilidade contextualizada e marcada pelo cuidado de perceber qual alcance teórico é de fato compatível com saberes outros, provenientes da situcionalidade e de perspectivas de sujeitos coloniais, logram o feito de não recair tanto em um “universalismo desencarnado” quanto em um “provincianismo amuralhado” em si mesmo.

Ressaltamos ainda que, para além desse dossiê temático, a revista (Des)troços recebe arremessos em fluxo contínuo de caráter geral que se vinculem ao pensamento radical e à linha editorial do periódico, conforme descrito em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadestrocos/about. As contribuições devem ser enviadas por meio do sistema OJS, respeitando-se as regras de submissão no caso de textos (https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadestrocos/about/submissions) até o dia 31 de agosto de 2024. As exigências de titulação não se aplicam às autoras de imagens, cujas contribuições serão avaliadas unicamente pela comissão editorial. As contribuições sob a forma de textos serão avaliadas pelo comitê editorial e pelo sistema de double blind review. Uma vez aprovados, textos e imagens serão publicados no nono número da revista, previsto para ser lançado no segundo semestre de 2024.