Povo, democracia e a an-arquia da política: uma crítica ao constitucionalismo a partir de Jacques Rancière
Publicado 20-07-2023
Palavras-chave
- constitucionalismo,
- democracia,
- Jacques Rancière,
- poder constituinte,
- Povo
Copyright (c) 2023 Reinaldo Silva Cintra
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Como Citar
Resumo
O presente trabalho visa colocar em diálogo crítico a tradição do pensamento constitucionalista e as noções de política e democracia an-árquicas desenvolvidas por Jacques Rancière em seus trabalhos, através de um tema comum a ambos os campos: o conceito de “povo”. O objetivo é, de um lado, discutir a natureza essencialista e vaga desse conceito na teoria jurídica, enquanto fundamento da ordem constitucional e duplo do Estado que, em tese, constitui. Por outro, apresentarmos as elaborações de Rancière em torno da existência de um “povo” como subjetivação singular que desafia e confunde a identificação do “povo” enquanto totalidade de uma ordem social composta de divisões e hierarquias pretensamente naturais. Concluímos que a obra de Rancière aponta para os limites do constitucionalismo enquanto pretenso regime da uniformidade e do consenso, sem, contudo, advogar pela sua total desconsideração. Mais do que uma troca de paradigmas, a democracia rancièreana aposta numa repolitização dos momentos constituintes enquanto cenas do dissenso em torno do sentido e do alcance dos chamados “direitos fundamentais” e seus sujeitos.
Referências
- AGAMBEN, Giorgio. Meios sem fim: notas sobre a política. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
- BALIBAR, Étienne; WALLERSTEIN, Immanuel. Raça, nação, classe: as identidades ambíguas. São Paulo: Boitempo, 2021.
- BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 7. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
- BERCOVICI, Gilberto. Soberania e constituição: para uma crítica do constitucionalismo. 2. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2013.
- BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 18. ed. São Paulo: Malheiros, 2011.
- BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2004.
- BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018. Ebook.
- DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
- DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.
- FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. O poder constituinte. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
- FRANK, Jason. Constituent moments: enacting the people in postrevolutionary America. Londres: Duke University Press, 2010. Ebook. DOI: https://doi.org/10.1515/9780822391685
- GETACHEW, Adom. Universalism after the post-colonial turn: interpreting the haitian revolution. Political Theory, Nova York, v. 44, n. 6, p. 821-845, ago. 2016. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/26419440. Acesso em: 14 jul. 2023. DOI: https://doi.org/10.1177/0090591716661018
- JELLINEK, Georg. Teoría General del Estado. Cidade do México: Fondo de Cultura Económica, 2000.
- MARCHART, Oliver. Democracy and Minimal Politics: the political difference and its consequences. The South Atlantic Quarterly, Durham, v. 110, n. 4, p. 965-973, out. 2011. Disponível em: https://read.dukeupress.edu/south-atlantic-quarterly/article-abstract/110/4/965/3557/Democracy-and-Minimal-Politics-The-Political. Acesso em: 14 jul. 2023. DOI: https://doi.org/10.1215/00382876-1382357
- NEGRI, Antonio. O poder constituinte: ensaio sobre as alternativas da modernidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2015.
- OLSON, Kevin. Imagined sovereignties: the power of the people and other myths of the modern age. Cambridge: Cambridge University Press, 2016. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9781316286265
- PINTO NETO, Moysés. A matriz oculta do Direito moderno: crítica do constitucionalismo contemporâneo. Cadernos de Ética e Filosofia Política, São Paulo v. 17, p. 131-152, fev. 2010. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/cefp/article/view/55710. Acesso em: 14 jul. 2023.
- RANCIÈRE, Jacques. “The thinking of dissensus: politics and aesthetics”. In: BOWMAN, Paul; STAMP, Richard (org.) Reading Rancière: critical dissensus. Nova York: Continuum, 2011. p. 1-17. DOI: https://doi.org/10.5040/9781472547378.ch-001
- RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2009.
- RANCIÈRE, Jacques. Nas margens do político. Lisboa: KKYM, 2014.
- RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento: política e filosofia. São Paulo: Editora 34, 1996.
- RANCIÈRE, Jacques. O ódio à democracia. São Paulo: Boitempo, 2014.
- ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social ou princípios do direito político. São Paulo: Penguin: Companhia das Letras, 2011.
- RUBIO, David Sanchez. Direitos humanos instituintes. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2022.
- SCHMITT, Carl. Teoría de la constitución. Madrid: Alianza Editorial, 1982.
- SILVA, José Afonso da. Poder constituinte e poder popular: estudos sobre a constituição. São Paulo: Malheiros, 2002.
- SILVA, Virgílio Afonso da. Direito constitucional brasileiro. São Paulo: EdUSP, 2021.
- SOUZA NETO, Cláudio Pereira de; SARMENTO, Daniel. Direito constitucional: teoria, história e métodos de trabalho. 2ª ed. Belo Horizonte: Fórum, 2014.