Entre leitura, extensão e cárcere
conversas sobre o projeto LiLi – Literatura Livre
DOI:
https://doi.org/10.35699/2318-2326.2025.63275Palavras-chave:
remição de pena, abolicionismo penal , cárcere, sistema prisional, literatura, leitura, Ações ExtensionistasResumo
Em outubro de 2025, a equipe da Revista Interfaces entrevistou Nayara Noronha, professora da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais e coordenadora do projeto LiLi – Literatura Livre. A entrevista apresenta o projeto, desdobra suas ações de leitura e escrita para remição de pena no sistema penitenciário destinado a mulheres, e aborda temas amplos e urgentes como justiça, abolicionismo penal e política pública. A entrevista foi realizada por chamada de vídeo, transcrita e editada pela equipe da Interfaces, e em seguida lida e editada pela entrevistada, a quem agradecemos a disponibilidade e o trabalho.
"De modo geral, o método funciona assim: vamos à unidade, sentamos em círculo, nos espalhamos no espaço; perguntamos o que elas acharam do livro e sentimos o tom de como vai ser a conversa — às vezes o encontro flui naturalmente, outras temos que ficar puxando tópicos para a discussão; recolhemos os diários literários das reeducandas e as alunas produzem os diários de campo com base na etnografia; depois fazemos uma reunião coletiva para discutir os dados, os diários e também os diários literários. Normalmente, é nesses diários literários que aparecem dados mais sensíveis, ou nos diários de campo. Trabalhamos, mais ou menos, com esse método. E, teoricamente – embora o projeto, sobretudo na sua elaboração, tenha um embasamento muito forte na ideia do Antônio Candido, do direito à literatura, de que a literatura é um direito de todas as pessoas, de que todos têm direito de imaginar e fruir, e de que esse direito não deve se restringir a grupos específicos ou de elite –, à medida que fui estudando e compreendendo o sistema carcerário, a ideia que nos move é a do abolicionismo penal. Esse sistema não deveria existir. Nenhum crime justifica uma mãe estar presa com um bebê. Essas mulheres são muito jovens. Poderia existir outra forma de justiça, uma forma de justiça restaurativa ou de negociação, que permitisse pagar socialmente sem ser por meio do encarceramento com um bebê. Essas são as duas principais correntes teóricas que organizam o projeto."