DESIGUALDADES SOCIAIS, EVASÃO E PERMANÊNCIA NO ENSINO MÉDIO INTEGRADO
UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DO PROCESSO PEDAGÓGICO
DOI:
https://doi.org/10.35699/2238-037X.2022.40205Palavras-chave:
Evasão escolar, Permanência estudantil, Desigualdades sociaisResumo
Este estudo analisou a relação entre desigualdades sociais, desigualdades escolares, evasão e permanência estudantil no Ensino Médio integrado de um Instituto Federal vinculado à Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Destaca-se a relevância da organização do processo pedagógico nesta análise, quanto à compreensão e acompanhamento da evasão e permanência no IF em apreço. As desigualdades se inserem no amplo contexto das relações sociais produzidas pelo capitalismo. Nesta perspectiva, verifica-se a existência de algumas peculiaridades que se consubstanciam, especialmente, na dualidade entre a formação geral e profissional, marcada pelas desigualdades sociais e, também, por outros fatores como os percursos e as condições socioeconômicas dos estudantes, os ambientes cultural e familiar, o acesso, ou não, ao capital social e cultural e, finalmente, os aspectos individuais e escolares, dentre outros. Nesse contexto, a evasão compreende um fenômeno socialmente desigual, portanto, uma manifestação das desigualdades sociais na escola, e deve ser considerado como construção histórica e social. Esse fenômeno é constituído no contexto do processo pedagógico e se caracteriza como um processo complexo, que apresenta uma diversidade de situações e fatores. Quanto ao desenvolvimento metodológico, foi realizado um estudo de caso no Ensino Médio integrado do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais/Campus Januária. Inicialmente, levantou-se o Estado da Arte a respeito da temática, contemplando estes enfoques: desigualdades sociais e escolares na organização da escola na sociedade capitalista; história, relações e contradições da Educação Profissional brasileira; evasão e permanência estudantil. Posteriormente, foi aplicado questionário a estudantes concluintes, evadidos e ainda em curso no Ensino Médio integrado do Campus Januária. Também foram realizadas entrevistas individuais com estudantes evadidos e um grupo focal com estudantes concluintes, e analisados os documentos que compõem o processo de discussão das ações relacionadas à evasão e permanência em nível nacional e na instituição. Foram identificados importantes achados, especialmente quanto ao perfil dos estudantes mais propensos a evadir e aos fatores que influenciam a sua decisão sobre abandonar ou não o curso. Destacam-se algumas características dos estudantes que compõem esse grupo de risco: baixa renda familiar e pais e mães em posição profissional de baixa estabilidade, Ensino Fundamental cursado em escola pública, estudantes pretos e ter sido retido em pelo menos uma série escolar. Por outro lado, constatou-se que os programas institucionais de auxílio financeiro e programas de residência e semirresidência contribuem significativamente para a permanência dos estudantes, principalmente aqueles que apresentam elementos associados ao grupo de risco para evasão. Verificou-se, ainda, que afinidade com o curso, apoio da família e dos amigos são aspectos influentes sobre a decisão de permanecer. Mas a pesquisa evidenciou que as desigualdades sociais não se limitam à relação entre perfil socioeconômico e risco de evasão. As desigualdades sociais na escola técnica de nível médio estão associadas às percepções e perspectivas que os diferentes grupos de estudantes apresentam e, dessa forma, orientam suas trajetórias escolares. Estão ainda associadas às concepções e decisões tomadas pelos docentes, gestores e outros profissionais, influenciando a organização do processo pedagógico e, consequentemente, as escolhas e trajetórias dos estudantes.