A CRISE DO TRABALHO NOS DISCURSOS DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS PORTUGUESAS

A EPISTEMOLOGIA DO CONTRABANDISTA NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35699/2238-037X.2019.9794

Palavras-chave:

Crise do Trabalho, Universidade, Sociedade do Conhecimento

Resumo

Este artigo reflete como se manifesta a crise do trabalho a partir dos discursos de universidades públicas portuguesas. A crise estrutural do fordismo-keynesianismo, com início na década de 1970, mobiliza uma série de transformações econômicas e sociais. Estas transformações apresentam-se como ajustes da economia, mas simultaneamente aprofundam as contradições essenciais da relação capital-trabalho na sociedade. Neste contexto, emerge o discurso hegemônico de uma sociedade na qual se atribui ao conhecimento um papel fundamental para o desenvolvimento econômico, reduzindo-o ao estatuto de um instrumento, cujo valor é definido pela sua utilidade nos sistemas produtivos. A análise de Programas de Ação de três universidades públicas portuguesas, nos permitiu identificar a emergência de um paradigma de ensino superior que busca adaptar as instituições às determinações dos processos globais de flexibilização da economia. Isto nos permitiu identificar que tal paradigma se fundamenta em uma perspectiva positiva e evolutiva de ciência, a qual - baseada em uma perspectiva sucessiva de tempo - assume o desenvolvimento enquanto um processo positivo e evolutivo. Nesta concepção, as contradições imanentes do desenvolvimento capitalista tornam-se superáveis pelo mero avanço do conhecimento científico e não pela crítica dos pressupostos da sua cientificidade. Neste sentido propomos a assunção de um paradigma científico do “contrabandista” que permitiria que a reflexão científica partisse das contradições da relação entre o trabalho e os saberes científicos por vias que subvertam os limites das formas de dominação social capitalista, as quais a cientificidade positiva nunca foi capaz de efetivamente criticar.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Gabriel Henrique Idalgo, Universidade do Porto (UP)

Doutorando em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (Portugal).

José Alberto de Azevedo e Vasconcelos Correia, Universidade do Porto (UP)

Professor Catedrático da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade do Porto (Portugal).

Maria Teresa Guimarães de Medina, Universidade do Porto (UP)

Professora Auxiliar da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade do Porto (Portugal). 

Referências

ALFREDO, A. A negatividade e a crítica à crítica crítica: sobre o espaço, tempo e modernização. XI Simpósio Nacional de Geografia Urbana. Brasília 2009.

AMARAL, A.; MAGALHÃES, A. O conceito de stakeholder e o novo paradigma do ensino superior. Revista Portuguesa de Educação, v. 13, n. 2, p. 07-28, 2000.

AZEVEDO, S. F. Antecipar o futuro, ousar a mudança - Programa de ação da Universidade do Porto para o período 2014-2018. PORTO, U. D. Porto: Universidade do Porto 2014.

BALL, S. J. Education policy and social class: The selected works of Stephen Ball. London: Routledge, 2006.

BERNHEIM, C.; CHAUÍ, M. Desafios da universidade na sociedade do conhecimento: cinco anos depois da conferência mundial sobre educação superior. Brasília: UNESCO, 2008.

BONAL, X. La educación en tiempos de globalización: ¿quién se beneficia? Education in the era of globalisation: who benefits? Educação & Sociedade, v.30, n.108, p.653-671, 2009.

BOTELHO, M. Entre as crises e o colapso: cinco notas sobre a falência estrutural do capitalismo. Revista Maracanan, n. 18, p. 157-180, 2018.

CARAMELO, J. Educação e desenvolvimento comunitário num processo de transição autogestionário. 2009. (Doutoramento). Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, Universidade do Porto, Porto.

CORREIA, J. A. Sociologia da educação tecnológica: Transformações do trabalho e da formação. Lisboa: Universidade Aberta, 1996. Disponível em: <http://search.ebscohost.com-/login.aspx?direct=true&AuthType=ip,shib&db=cat05428a&AN=bup.000056083&lang=ptbr&site=eds-live&scope=site>.

CORREIA, J. A. Trabalho e formação: Crónica de uma relação política e epistemológica ambígua. In: TORRES, L. L. e PALHARES, J. A. (Ed.). Metodologia de investigação em ciências sociais da educação. Vila Nova Famalicão: Húmus, 2014. p.113-131.

CORREIA, J. A. 30 anos de Ciências da Educação: Centralidades e periferias. Faculdade de Psicologia e de Ciências da, Educação da Universidade do Porto. FPCEUP 2017.

CORREIA, J. A.; FIDALGO, F.; FIDALGO, N. R. A avaliação como trabalho e o trabalho da avaliação. Educação, Sociedade & Culturas, n. 33, p. 37-50, 2011. Disponível em:

<https://www.fpce.up.pt/ciie/revistaesc/ESC33/ESC33_Artigos_Correia.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2018.

CORREIA, J. A.; STOLEROFF, A. D.; STOER, S. R. A ideologia da modernização do sistema educativo em Portugal. Educação, Sociedade & Culturas, n. 37, p. 169-193, 2012.

ETZKOWITZ, H. When knowledge married capital: the birth of academic enterprise. Journal of Knowledge-based Innovation in China, v. 5, n. 1, p. 44 - 59, 2013.

HARVEY, D. Condição pós moderna: Uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Edições Loyola, 2014.

IDALGO, G. H. O “casamento” da universidade com o capital: Manifestação da crise do trabalho e da reprodução do capital a partir da análise do Programa de Ação de uma universidade. 2016. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade do Porto, Porto.

JESSOP, B. Varieties of Academic Capitalism and Entrepreneurial Universities: On Past Research and Three Thought Experiments. Higher Education: The International Journal of Higher Education Research, v. 73, n. 6, p. 853-870, 06/01/ 2017. ISSN 0018-1560. Disponível em: <http://www.sciedupress.com/journal/index.php/ijhe/issue/view/505>. Acesso em: 19 fev. 2018.

KURZ, R. A ascensão do dinheiro aos céus: Os limites estruturais da valorização do capital, o capitalismo de casino e a crise financeira global. Disponível em: <http://www.obecoonline.org/rkurz101.htm>. Acesso em: 19 fev. 2018.

KURZ, R. O colapso da modernização: Da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial. São Paulo: Paz e Terra, 2004.

KURZ, R. Dinheiro sem valor: Linhas gerais para uma transformação da crítica da economia política. Lisboa: Antígona, 2014.

LUKÁCS, G. História e consciência de classes: estudos sobre a dialética marxista. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

MAGALHÃES, A. A identidade do ensino superior: A educação superior e a universidade. Revista Lusófona de Educação, v. 7, p. 13-40, 2006. ISSN 1645-7250.

MANDEL, E. O capitalismo tardio. São Paulo: Nova Cultural, 1985.

MARX, K. O capital: Crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

POSTONE, M. Thinking the global crisis. The South Atlantic Quarterly, v. 11, n. 2, p. 227-249,

POSTONE, M. Tempo, trabalho e dominação social: uma reiterpretação da teoria crítica de Marx. São Paulo: Boitempo, 2014.

POSTONE, M. Marx, temporality and modernity. In: LIU, J. C. e MURTHY, V. (Ed.). East-asian marxisms and their trajectories. Oxon: Routledge, 2017. p.29-48.

SEGNINI, L. Educação, trabalho e desenvolvimento: Uma complexa relação. Trabalho & Educação, n. 6, p. 14-46, 2000.

SÉVILLE, A. From 'one right way' to 'one ruinous way'? Discursive shifts in 'There is no alternative'. European Political Science Review, v. 9, n. 3, p. 449-470, 2017. Disponível em:

<https://www.cambridge.org/core/journals/european-political-science-review/latest-issue>. Acesso em: 19 fev. 2018

WORLDBANK. Constructing knowledge societies: New challenges for tertiary education. Wanshington, D. C.: World Bank, 2002. Disponível em: <https://openknowledge.worldbank.org-/handle/10986/15224 >. Acesso em: 19 fev. 2018

ŻELAZNY, R. Information society and knowledge economy - essence and key relationships. Journal of Economics & Management, v. 20, n. 2, p. 5-22, 2015. ISSN 17321948. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/282249905>. Acesso em: 19 fev. 2018.

Downloads

Publicado

2019-02-21

Como Citar

IDALGO, G. H.; CORREIA, J. A. de A. e V.; MEDINA, M. T. G. de. A CRISE DO TRABALHO NOS DISCURSOS DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS PORTUGUESAS: A EPISTEMOLOGIA DO CONTRABANDISTA NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO. Trabalho & Educação, Belo Horizonte, v. 28, n. 1, p. 13–27, 2019. DOI: 10.35699/2238-037X.2019.9794. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/trabedu/article/view/9794. Acesso em: 18 nov. 2024.

Artigos Semelhantes

> >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.