A cerâmica afrodiaspórica
o estudo de caso do sítio Olhos d’água, Alto Araçuaí, Minas Gerais
DOI:
https://doi.org/10.31239/1rxaaw29Palavras-chave:
Arqueologia histórica, Cerâmica, Análise afrocentrada, Diáspora africana, Alto AraçuaíResumo
Este artigo irá apresentar parte das pesquisas realizadas no sítio Olhos d’água, Alto Araçuaí, MG, tendo como foco a análise e interpretação dos vestígios a partir de categorias afrocentradas. No local foi identificada materialidade composta por fragmentos de vasilhames cerâmicos, associados à ocupação da região por grupos afro-brasileiros durante os séculos XVIII e XIX. Nesta etapa foram utilizados os conceitos iorubás de Ìlutí e Ojú-inú, que relacionam o saber fazer artístico dos/as artesãos/ãs com a manutenção do axé e conhecimento das especificidades religioso-cotidianas. Logo, foi realizada a identificação de distintos padrões de decoração e produção dos vasilhames, tendo em vista a potencialidade dos símbolos como forma de dispersão dos saberes. Foi identificada uma intencionalidade na aquisição e produção dessas vasilhas, alternando entre genéricas (fabricadas possivelmente no torno), além das especializadas, com estigmas de produção manual e decorações incisas, com padrões amplamente difundidos no território brasileiro. Dentre as conclusões, foi sugerida a importância dos/as artesãos/ãs no processo de reprodução e padronização dos motivos decorativos, com isso o/a bom/a artista seria aquele que, identificando a necessidade de cada contexto, elabora decorações capazes de atender as especificidades de ações pautadas no cotidiano e no sagrado.
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