Imagem e arqueologia na era da pós-fotografia

reflexões a partir de uma experiência difrativa no Egito

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31239/vtg.v18i2.49580

Palavras-chave:

arqueologia, documentário, teoria e metodologia, fotografia

Resumo

“Ninguém pode sair da caverna”. Com essa frase, Joan Fontcuberta mira o coração da ontologia da imagem fotográfica e denuncia o caráter ficcional das representações “documentais” do real. A consolidação da fotografia como documento, consequência da cultura tecno-científica, associada, no século XIX, ao positivismo e à expansão colonial, escondeu, durante cerca de um século, sua natureza de Janus Bifrons. Mais que “representações”, as fotografias são tomadas como substitutas das coisas fotografadas e esse status, associado à ideia de verdade, faz delas o meio de expressão visual ideal para a ciência do séc. XX, sobretudo a arqueologia. O esgotamento dos princípios norteadores do mundo moderno, no entanto, trouxe à luz o lado escuro da lua documental, a saber: que a verdade fotográfica, como a magia, depende de um “acordo coletivo” que ignora suas trapaças e, em uma “emaranhada teia de ficções”, estrutura a experiência do real.
O texto a seguir investiga as origens do realismo fotográfico e segue os caminhos de seu esgotamento, concluindo com uma reflexão acerca das implicações da superação da verdade documental para a arqueologia valendo-se, como exemplo, de um “grupo difrativo” composto por imagens de objetos escavados na tumba TT123, na Necrópole Tebana, em Luxor, no Egito, no âmbito do Brazilian Archaeological Project in Egypt (BAPE).

Referências

Arago, D. F. (2013). Relatório. Em Trachtemberg, A. (org.). Ensaios sobre fotografia: de Niépce a Krauss (p. 35-44). Lisboa: Orfeu Negro.

Azoulay, A. (2019). Desaprendendo as origens da fotografia. Zum, 17. Disponível em: <https://revistazum.com.br/revista-zum-17/desaprendendo-origens-fotografia/>. [cons. 15 jan. 2024].

Barad, K. (2007). Meeting the universe halfway: quantum physics and the entanglement of matter and meaning. Durham: Duke University Press.

Barad, K. (2014). Diffracting diffraction: cutting together-apart. Parallax, 20(3), 168-187.

Barad, K. (2017). Performatividade pós-humanista: para entender como a matéria chega à matéria. Vazantes, 1(1), 7-34.

Bateson, G., & Mead, M. (1942). Balinese character: a photographic analysis. New York: New York Academy of Sciences.

Barthes, R. A câmera clara (2015). Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

Baudelaire, C. (2013). O público moderno e a fotografia. Em Trachtemberg, A. (org.). Ensaios sobre fotografia: de Niépce a Krauss (p. 99-104). Lisboa: Orfeu Negro.

Bazin, A. (2013). A ontologia da imagem fotográfica. Em Trachtemberg, A. (org.). Ensaios sobre fotografia: de Niépce a Krauss (p. 261-266). Lisboa: Orfeu Negro.

Bonduki, I. (2015). O conceito de sequência em Nathan Lyons. Dissertação (Mestrado). Universidade de São Paulo, Escola de Comunicações e Artes, São Paulo.

Close, R. (2024). Decolonizing images: a new history of photographic cultures in Egypt. Manchester: Manchester University Press.

Didi-Huberman, G. (2013). A imagem sobrevivente: história da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg, Rio de Janeiro: Editora Contraponto.

Didi-Huberman, G. (2019). Diante do tempo: história da arte e anacronismo das imagens. Belo Horizonte: editora UFMG.

Didi-Huberman, G. (2021). Atlas ou o gaio saber inquieto: O olho da história, III. Belo Horizonte: editora UFMG.

Dubois, P. (2004). O ato forográfico e outros ensaios. São Paulo: Papyros Editora.

Fontcuberta, J. (2016). La fúria de las imágenes: notas sobre la postfotografia. Barceloa: Galaxia Gutemberg.

Gill, S. (2005). A book of fiel studies. Londres: Chris Boot.

Haraway, D. (1997). Modest witness@Second millennium FemaleMan Meets OncoMouse™: Feminism and technoscience. New York: Routledge.

Hissa, S. (2015). Fotografia arqueológica: entre a mimese e a criação. Habitus, 13(2), 71-88.

McDonald, J. (2012). Nathan Lyons: selected essays, lectures, and interview. Austin: University of Texas Press.

Miles, M. (2010) Drive to archive: conceptual documentary photobook design. Photographies, 3(1), 49-68.

Parr, M. (2016). Real food. London: Phaidon Press.

Pellini, J. R. (2022) Encounters, affects and intra-actions: difracting the Theban Tomb 123. Archaeologies, 18, 338-369.

Pellini, J. R. (2023) The Brazilian Archaeological Program in Egypt: the first six years on TT123: assembling the puzzle.

Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, 40, 104-123.

Pinney, C. (1996). A história paralela da antropologia e da fotografia. Cadernos de Antropologia e Imagem, 2, 29-52.

Rouillé, A. (2009). A fotografia: entre documento e arte contemporânea. São Paulo: Editora Senac.

Ruscha, E. (1963). Twentysix gasoline stations. Los Angeles: Ed Rouscha.

Sayal-Bennett, A. (2021). Diffractive analysis: embodied encounters in contemporary artistic vídeo practice. Tate Papers, 29. Disponível em: <https://www.tate.org.uk/research/publications/tate-papers/29/diffractive-analysis>. [cons. 04 jun. 2021].

Sekula, A. (2013). Sobre a invenção do significado da fotografia. Em Trachtemberg, A. (org.). Ensaios sobre fotografia: de Niépce a Krauss (p. 387-410). Lisboa: Orfeu Negro.

Shanks, M. (1997). Photography and archaeology. Em Molineux, B. L. (ed.). The culture life of images: visual representation in archaeology (p. 73-107). London & New York: Routledge.

Smith, K. (2010). Structure of the visual book. Keith Smith Books: Rochester.

Warburg, A. (2010). Atlas Mnemosyne. Madrid: Ediciones Akal.

Van der Spek, K. (1997). Another place, a different west bank...: issues of social dislocation, heritage management, and the national interest in Upper Egypt. Bulletin of the Centre for Middle Eastern and Central Asian Studies (CMECAS), 4(1), 3-6.

Downloads

Publicado

2024-07-29

Como Citar

Imagem e arqueologia na era da pós-fotografia: reflexões a partir de uma experiência difrativa no Egito . (2024). Vestígios - Revista Latino-Americana De Arqueologia Histórica, 18(2), 131-150. https://doi.org/10.31239/vtg.v18i2.49580