Os verbos terminados em -iar
a expansão da irregularidade no Brasil e em Portugal
DOI:
https://doi.org/10.35699/2317-2096.2025.57279Palabras clave:
verbos irregulares, norma, português brasileiro, português europeuResumen
O presente estudo analisa as razões pelas quais as normas padrão do português europeu e do português brasileiro divergem quanto à conjugação dos verbos terminados em -iar. Observa-se que, enquanto em Portugal é amplamente aceita a alternância vocálica -i-/-ei- em diversos verbos, no Brasil essa variação é normativamente restrita a apenas seis casos. Analisaram-se gramáticas, manuais ortográficos e dicionários com o objetivo de identificar o momento em que tais variações foram inicialmente registradas, bem como examinar a recepção normativa dessas novas formas por parte dos gramáticos e estudiosos da época. Concluiu-se que a diferença entre os dialetos se deu pela perda do contraste entre as vogais pretônicas /e/ e /i/ no contexto de primeira vogal de hiato em Portugal, causando maior confusão entre as conjugações, enquanto o Brasil manteve o contraste das vogais anteriores pretônicas. Além disso, houve uma mudança na norma brasileira no século XX, na qual se buscou desvencilhar o português do Brasil do de Portugal, o que refletiu no registro da rejeição da alternância -i-/-ei- na grande maioria dos verbos. Portanto, a diferença na difusão do fenômeno de alternância entre as variedades de Portugal e Brasil não é uma questão meramente fonológica, mas também normativa.
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