Sonhando Moçambique
DOI:
https://doi.org/10.17851/2359-0076.24.33.141-151Resumen
Como nação que lentamente se liberta do jugo da colonização, mas que já foi (e ainda é) marcada pela cultura do outro, Moçambique tem, na literatura, autores que conseguiram evidenciar a tensão existente entre a tradição e a “cultura nova” que se infiltrou no território africano principalmente a partir do processo de colonização. É de forma sensível e desvestida de preconceitos que um desses autores, Mia Couto, em seu romance Terra sonâmbula, aponta a existência dessa teia de influências que atua na construção da identidade do povo moçambicano. Oral/ escrita; sonho/ lógica e racionalidade: dois pares de aspectos que, se em princípio parecem se constituir como dicotômicos, acabam por revelar, na obra, a defesa de uma mestiçagem como condição harmonizadora da tensão entre tradição e “cultura nova”. O caráter mestiço da nova Moçambique seria um terceiro “estado de alma” do povo; na obra, um estado sonhambulante: estado de quem sonha, mas age como se estivesse acordado. Assim o visível e o invisível, o possível e o impossível formam um novo estado de vivência, onde seres e acontecimentos fantásticos dividem espaço (de forma mais concreta que se pode pensar) com a guerra.
As a nation that slowly frees itself from the colonization, but has been (and it still is) stamped by other cultures, Mozambique has, in its literature, autors that were able to show the tension between tradition and the new culture, that had entered in Africa manly by the colonization process. It´s in a sensitive way, with no prejudice that one of these authors, Mia Couto, in his romance Terra sonâmbula, shows the existence of this influence net that performs the identity building process of the people from Mozambique. Oral/ written, dream/ logic and sense: two pairs of aspects that, if in the beginning seem to be opposites, in this work, they reveal themselves the defense of the halfcasteness as a balancing condition of the tension between tradition and new culture. The halfcaste side of the new Mozambique would be a third “soul state” of the people; in the work, a “sonhambulante” state (this word is formed by three words: dream sleep-walker and walking): the state of one who dreams, but acts as if were awake. Thus, the visible and the invisible, possible and impossible form a new living state, where beings and fantastic events share the spaces (in a more concrete way that one may think) with the war.