Sonhando Moçambique

Autori

  • Andréa Vilela Gouvêia Quadra

DOI:

https://doi.org/10.17851/2359-0076.24.33.141-151

Abstract

Como nação que lentamente se liberta do jugo da colonização, mas que  já foi (e ainda é) marcada pela cultura do outro, Moçambique tem, na  literatura, autores que conseguiram evidenciar a tensão existente entre a  tradição e a “cultura nova” que se infiltrou no território africano  principalmente a partir do processo de colonização. É de forma sensível  e desvestida de preconceitos que um desses autores, Mia Couto, em seu  romance Terra sonâmbula, aponta a existência dessa teia de influências  que atua na construção da identidade do povo moçambicano. Oral/ escrita;  sonho/ lógica e racionalidade: dois pares de aspectos que, se em princípio  parecem se constituir como dicotômicos, acabam por revelar, na obra, a  defesa de uma mestiçagem como condição harmonizadora da tensão entre  tradição e “cultura nova”. O caráter mestiço da nova Moçambique seria um terceiro “estado de alma” do povo; na obra, um estado sonhambulante:  estado de quem sonha, mas age como se estivesse acordado. Assim o  visível e o invisível, o possível e o impossível formam um novo estado  de vivência, onde seres e acontecimentos fantásticos dividem espaço (de  forma mais concreta que se pode pensar) com a guerra.

As a nation that slowly frees itself from the colonization, but has been  (and it still is) stamped by other cultures, Mozambique has, in its literature,  autors that were able to show the tension between tradition and the new  culture, that had entered in Africa manly by the colonization process.  It´s in a sensitive way, with no prejudice that one of these authors, Mia  Couto, in his romance Terra sonâmbula, shows the existence of this  influence net that performs the identity building process of the people  from Mozambique. Oral/ written, dream/ logic and sense: two pairs of  aspects that, if in the beginning seem to be opposites, in this work, they  reveal themselves the defense of the halfcasteness as a balancing condition  of the tension between tradition and new culture. The halfcaste side of  the new Mozambique would be a third “soul state” of the people; in the  work, a “sonhambulante” state (this word is formed by three words:  dream sleep-walker and walking): the state of one who dreams, but acts  as if were awake. Thus, the visible and the invisible, possible and impossible  form a new living state, where beings and fantastic events share the  spaces (in a more concrete way that one may think) with the war.

Pubblicato

2004-12-31

Fascicolo

Sezione

Vária - Literatura Portuguesa e Africana

Come citare

Sonhando Moçambique. (2004). Revista Do Centro De Estudos Portugueses, 24(33), 141-151. https://doi.org/10.17851/2359-0076.24.33.141-151