“A noite chegava cedo em Manarairema” – o espaço (semi)urbano em A hora dos ruminantes, da literatura ao cinema
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.27.1.137-160Palavras-chave:
A hora dos ruminantes, José J. Veiga, Luiz Sergio Person, Jean-Claude Bernardet, espaço urbanoResumo
Este artigo trata da representação da cidade ficcional Manarairema na obra literária A hora dos ruminantes do escritor José J. Veiga, bem como do homônimo projeto cinematográfico não-filmado, adaptado da obra de Veiga pelo cineasta Luiz Sergio Person e pelo crítico de cinema e roteirista Jean-Claude Bernardet. Discutimos a representação do espaço semiurbano de Manarairema partindo da noção de “colonialismo interno”, reconhecendo nela manifestações do fascismo interiorano. Discutimos também a representação do nacional-popular, da literatura ao cinema, e o problema da “reconhecibilidade” da Manarairema. Em seguida, tratamos da originalidade do projeto cinematográfico de A hora dos ruminantesdentro do panorama do Cinema Novo, um modelo de cinema de resistência à Ditadura Militar voltado para o público popular interiorano, numa estética próxima do realismo mágico. Por fim, exploramos duas questões dentro do roteiro cinematográfico de A hora dos ruminantes: o problema da linguagem e a escolha da locação de filmagem.
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