A escuta multiespécies em Clarice Lispector
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.29.1.222-249Palavras-chave:
Clarice Lispector, Escuta, Animalidade, Ecocrítica, EcopoéticaResumo
Tendo como ponto de partida o fato de a escuta ser um elemento presente em boa parte do material ficcional de Clarice Lispector, este artigo analisa sobretudo algumas das relações que podem ser estabelecidas entre o exercício da escuta e a inscrição da vida outra que humana em seus textos. Investiga-se, portanto, de que modo a autora recorre a uma relação com a escrita afastada de um posicionamento que assume o olhar como o ponto nodal da construção de sentidos e, assim, constrói narrativas que embaralham os limites semânticos e conceituais que envolvem termos como vida, humanidade e animalidade. Trata-se, neste trabalho, de compreender a escuta em Clarice Lispector como gesto que expande as maneiras por meio das quais nos afetamos pelo texto literário e, com isso, amplia o campo do possível ao nos apontar outros modos de se conceber a vida, a humanidade e os outros seres da terra.
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