Cultura como comunidade imaginada
uma crítica à abordagem ontológica da cultura nos estudos geográficos
DOI:
https://doi.org/10.35699/2237-549X.2018.19236Palavras-chave:
Cultura, Ontologia, GeografiaResumo
As abordagens tradicionais da antropologia, relativos às superestruturas que seriam capazes de moldar o comportamento de um conjunto expressivo de indivíduos, ainda estão presentes no debate geográfico. A força da abordagem superorgânica de Kroeber e dos paradigmas construídos pela escola de Berkeley participam vivamente da mentalidade geográfica contemporânea, o que nos ajuda a explicar a concepção ontológica da cultura. Nesta, a cultura é tratada como um ente, passível de delimitação e descrição, ignorando os avanços da moderna antropologia. Rompendo com a concepção ontológica da cultura, defendemos a ideia de que o conceito em questão, bem como considerou Benedict Anderson acerca da nação, trata-se de uma comunidade imaginada. Este tipo de entendimento liberta a análise geográfica de vícios tais como: a desmobilização do esforço em prol da justiça social, a supressão da geografia no exercício da alteridade, a reprodução reificada da abordagem ontológica em materiais didáticos e a inadequação da representação cartográfica da cultura. É nosso objetivo apresentar criticamente estas consequências.
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