A abordagem dos desastres pelas Ciências Sociais vem representando o desafio de problematizar a sua interpretação hegemonizada, considerando sua forte apropriação pelas chamadas ciências duras. Tal esforço tem permitido desvelar a existência de uma disputa pela sua apropriação e a presença de estratégias discursivas e práticas que marcam os posicionamentos dos diferentes atores sociais envolvidos, evidenciando diversidade e complexidade. Este artigo pretende abrir reflexões em torno de uma forma específica de resistência e denúncia, originada do sofrimento social que tem marcado a experiência de grupos ameaçados pela desterritorialização, tendo por foco os afetados pelo rompimento da Barragem de Fundão – Mariana/MG. Desde o desastre desencadeado em novembro de 2015, comunidades situadas imediatamente à jusante da referida barragem tiveram sua territorialidade profundamente alterada, assim como milhares de agricultores, comerciantes e pescadores viram comprometidas suas atividades produtivas ao longo de todo o Rio Doce – perdas que impactam a base material e simbólica de suas experiências no território. A reflexão pretende se deter nos aspectos que vêm marcando a resistência dos afetados, expressa em valiosas estratégias de luta no enfrentamento do desastre em curso. O Jornal A Sirene – para não esquecer é um desses recursos e se revela fundamental na manutenção e reafirmação da memória e da organização desses sujeitos coletivos.