A palavra das mulheres como phármakon

uma leitura arqueológica

Autores/as

  • Alessandra Affortunati Martins Universidade Federal de São Paulo, Guarulhos, SP, Brasil

Palabras clave:

Sofistas, Filósofos, Arqueologia, Aspásia, Helena

Resumen

 Trata-se de recorrer à arqueologia do saber, tal como empreendida por Foucault, em suas aulas entre os anos de 1970-1971 no Collège de France, para resgatar o lugar da mulher no contexto clássico grego. Nas primeiras aulas desse período, Foucault explora a subdivisão entre sofistas e filósofos que abalou de modo irreversível o lugar de saber e poder da sofística. Tal abalo consolida o viés da lógica aristotélica em detrimento da palavra em sua função de phármakon. Com esse recorte, a pesquisa arqueológica realizada por Barbara Cassin sobre a sofística, especialmente o Elogio de Helena, de Górgias, também se torna uma referência para compreender outra forma de saber tradicionalmente ligada às mulheres. Por meio de sua análise filológica e dos estudos da classicista Nicole Loraux (1993) sobre a figura de Aspásia, nota-se como a validade do que é tomado como verdade na tradição ocidental subdivide-se também por um corte de gênero subjacente, no qual modelos historicamente atrelados aos saberes das mulheres – ou femininos de maneira mais ampla – aparecem destituídos de valor, ao passo que formas ligadas aos modelos de pensamento masculino emergem alinhadas ao que é tido como verdadeiro e, portanto, contendo valor nas sociedades ocidentais. 

Referencias

ARISTÓTELES. “Ética a Nicômacos”. Trad. M. Kury. Brasília: Editora Universidade

de Brasília, 1997.

ARISTÓTELES. “Metafísica”. Trad. M. Perine. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

ARISTÓTELES. “Órganon”. Trad. E. Bini. São Paulo: EDIPRO, 2005.

ARISTÓTELES. “Política”. Trad. A. Amaral e C. C. Gomes. Lisboa: Vega, 1998.

ASSUNÇÃO, T. R. “Luto e Banquete no Canto IV da Odisseia”. Revista de Letras

Clássicas, Vol. 14 (2010), pp. 34-50, Universidade de São Paulo.

BARNES, J. “Aristóteles”. São Paulo: Edições Loyola, 2013.

BAUDRILLARD, J. “Da sedução”. Trad. T. Pelegrini. Campinas: Papirus, 2008.

BERTI, E. “As razões de Aristóteles”. São Paulo: Edições Loyola, 1998.

BRULÉ, P. “Des femmes au miroir masculin”. In: Mélanges P. Lévêque. BesançonParis: Annales littéraires de l’Université de Besançon, 1989, pp. 49-61.

CASSIN, B. “Jacques, o Sofista: Lacan, logos e psicanálise”. Trad. Y. Vilela. Belo

Horizonte: Autêntica Editora, 2017.

CASSIN, B. “O efeito sofístico”. Trad. A. L. Oliveira, M. C. Ferraz e P. Pinheiro. São

Paulo: Editora 34, 2005.

CAVARERO, A. “Diotima: il pensiero della differenza sessuale”. Milano: La Tartaruga

Edizioni, 2003.

CREPALDI, C. L. “Helena de Eurípides: estudo e tradução”. São Paulo: FFLCH/

USP, 2015.

CRIVELLI, P. “Aristotle on Truth”. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.

DUPRÉEL, E. “Les Sophistes? Protagoras, Gorgias, Prodicus, Hippias”. Neuchâtel:

Éditions du Griffon, 1980. (Originalmente publicada em 1948).

FOUCAULT, M. “A ordem do discurso”. Trad. L. F. A. Sampaio. São Paulo: Edições

Loyola, 1996.

FOUCAULT, M. “Aulas sobre a vontade de saber”. Trad. R. C. Abílio. São Paulo:

Martins Fontes, 2014. (Originalmente publicado em 1970-1971).

FOUCAULT, M. “Histoire de la folie à l’âge classique”. Paris: Gallimard, 1972.

Reprinted in: História da loucura na idade clássica. Trad. J. T. C. Netto. 2ª ed. São

Paulo: Editora Perspectiva, 1978.

GOMPERZ, T. “Sophistik und Rhetorik. Das Bildungsideal des eu legein in seinem

Verhältnis zur Philosophie des V. Jahrhunderts”. Leipzig/Berlim, 1912.

GÓRGIAS. “Elogio de Helena”. In: B. Cassin. O efeito sofístico. São Paulo: Editora

34, 2005, pp. 293-301.

GÓRGIAS. “O Tratado do Não-Ser, M.X.G./Sexto”. In: B. Cassin. O efeito sofístico.

São Paulo: Editora 34, 2005, pp. 269-271.

GROTE, G. “Aristotle”. Londres: Good Press, 2019.

HETERA. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/

wiki/Hetera. Acesso em: 26 nov. 2023.

HOMERO. “Odisseia”. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

HOMERO. “Odisseia”. Trad. C. A. Nunes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

IRIGARAY, L. “An Ethics of Sexual Difference”. Ithaca, NY: Cornell University

Press, 1993.

LALANDE, A. “Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia”. Trad. F. S. Correia et al.

São Paulo: Martins Fontes, 1999.

LORAUX, N. “Grecia al femminile”. Roma-Bari: Editora Laterza, 1993.

NIETZSCHE, F. “O crepúsculo dos ídolos”. Trad. E. Bini e M. Pugliesi. São Paulo:

Companhia das Letras, 2006.

PANOFSKY, E. “Hercule à la croisée des chemins”. Paris: Flammarion, 1999.

PLATÃO. “Diálogos: Teeteto – Crátilo”. Trad. C. A. Nunes. Belém: Universidade

Federal do Pará, 1988.

PRIETO, M. H. U. “Dicionário de Literatura Grega”. Lisboa-São Paulo: Verbo, 2001.

SILVA, M. A. C. “Hércules entre o Vício e a Virtude e Alegoria da Sabedoria e da

Força: as cópias de Veronese por François Boucher, do acervo do MASP”. RHAA,

Vol. 6, pp. 55-67.

TUCÍDIDES. “História da Guerra do Peloponeso”. Trad. M. G. Kury. 4ª ed. Brasília:

Editora Universidade de Brasília; Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, 2001.

WOOLF, V. “Une chambre à soi”. Paris: Denoël/Gonthier, 1977. (Originalmente

publicada em 1929).

Publicado

2025-12-23

Número

Sección

Artigos

Cómo citar

A palavra das mulheres como phármakon: uma leitura arqueológica. Revista Kriterion, [S. l.], v. 66, n. 161, 2025. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/kriterion/article/view/53159. Acesso em: 24 dec. 2025.