Gene e caráter como maldição hereditária

discursos sobre criminalidade e anormalidade no Boletim de Eugenia (1929-1932)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35699/1676-1669.2023.38843

Palavras-chave:

eugenia, psicologia criminal, criminalidade, anormalidade

Resumo

O estudo parte das pesquisas atuais sobre a etiologia do crime nos campos psi e dos diferentes instrumentos utilizados para esse fim. Argumenta-se que essas pesquisas apresentam ressonâncias da lógica determinista da Escola Positivista de Criminologia e da racionalidade eugenista da primeira metade do século XX. A narrativa histórica aqui proposta busca contribuir para as reflexões sobre a reificação do crime e uso dos dispositivos de avaliação do corpo e do psiquismo. O estudo pesquisou os discursos sobre criminalidade e anormalidade no Boletim de Eugenia (1929-1932), explorando a hipótese da reatualização do pensamento eugenista nas atuais investidas dos supostos saberes criminológicos. Conclui-se que as tentativas de captura da psicologia, enquanto dispositivo de poder, explicitam as vontades de normatização incorporadas na lógica preditiva do crime.

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Biografia do Autor

Luender Rytchell Martins Silva, Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz)

Luender Rytchell Martins Silva é psicólogo. Mestrando em História das Ciências e da Saúde. Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).

Juliana Ferreira da Silva, Universidade Católica de Brasília

Juliana Ferreira da Silva é doutora em Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília.

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Publicado

2023-05-17

Como Citar

Silva, L. R. M., & Silva, J. F. da. (2023). Gene e caráter como maldição hereditária: discursos sobre criminalidade e anormalidade no Boletim de Eugenia (1929-1932). Memorandum: Memória E História Em Psicologia, 40. https://doi.org/10.35699/1676-1669.2023.38843

Edição

Seção

Artigos