Maldade, drogas ou desespero

o imaginário sobre a mãe que abandona seu bebê

Autores

  • Marcela Casacio Ferreira-Teixeira Pontifícia Universidade Católica de Campinas
  • Tania M. J. Aiello-Vaisberg Pontifícia Universidade Católica de Campinas

Palavras-chave:

abandono, criança abandonada, imaginário, maternidade, mulheres

Resumo

O objetivo do presente trabalho é investigar psicanaliticamente o imaginário coletivo sobre a mãe que abandona o bebê. Justifica-se no contexto do reconhecimento de que o fenômeno do abandono infantil encontra, em nosso país, vinculado ao fato de largos contingentes populacionais viverem em condições de precariedade social, o que cria um grave problema relativo à proteção e guarda de crianças e adolescentes. Organiza-se como estudo qualitativo de 44 notícias jornalísticas acessíveis em site que reproduz notícias publicadas em jornais impressos. A consideração deste material permitiu a produção interpretativa de um campo de sentido afetivo-emocional, “Sub Judice”, que contém três subcampos: “Mãe malvada”, “Mãe desesperada” e “Mãe drogada”. O quadro geral indica que a mulher que abandona seu bebê figura no imaginário como autora de ato delinquencial, que seria motivado por deficiências de caráter, que se expressam como crueldade ou como abertura para o uso abusivo de drogas, ou por dificuldade em enfrentar problemas. Cabe concluir que tais imagens podem comprometer a visão da condição da mulher como ser humano submetido a condições de precariedade socioeconômica e de desigualdade de gênero, que geram sofrimentos sociais importantes abrangendo desamparo, humilhação e injustiça.

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Marcela Casacio Ferreira-Teixeira, Pontifícia Universidade Católica de Campinas

psicóloga e pós-doutora PNPD/CAPES pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Tania M. J. Aiello-Vaisberg, Pontifícia Universidade Católica de Campinas

psicóloga, livre-docente pela Universidade de São Paulo e docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Referências

Aiello-Vaisberg, T. M. J. (1999). Encontro com a loucura: transicionalidade e ensino de psicopatologia. Tese de Livre Docência, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, SP.

Ambrosio, F. F., Aiello-Fernandes, R. & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2013). Pesquisando sofrimentos sociais com o método psicanalítico: considerações conceituais. Em Anais Jornada Apoiar Adolescëncia: Identidade e sofrimento na clínica social, XI,(pp.174-188). São Paulo: Instituto de Psicologia da USP.

Badinter, E. (1980). l’amour en plus: histoire de l’amour maternel XVIIeme-XXeme. Paris: Flammarion.

Bleger, J. (1963).Psicologia delaconduta. Buenos Aires:Paidós.

Chinalia, M. J. S. (2012). Mulheres na prisão: estudo psicanalítico de um documentário brasileiro. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP.

Devereux, G. (1980). De l’angoisse à la méthode dans les sciences du comportement. Paris: Flammarion.

Ferreira, M. C. (2006).Encontrando a criança adotiva: um passeio pelo imaginário coletivo de professores à luz da psicanálise. Tese de Doutorado,Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP.

Fernandes, R. T., Lamy, Z. C., Morsch, D., Lamy Filho, F. & Coelho, L. F. (2011). Tecendo as teias do abandono: além das percepções das mães de bebês prematuros. Ciência & Saúde Coletiva [online], 16(10), 4033-4042. Recuperado em 20 de setembro, 2015, de www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232011001100008&lng=en& nrm=isso

Fonseca, C. (2012). Mães “abandonantes”: fragmentos de uma história silenciada. Revista Estudos Feministas, 20(1),13-32. Recuperado em 20 de setembro, 2015, de periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2012000100002/21848

Freitas, W. M. F., Cavalcante da Silva, A. T. M., Coelho, E. A. C., Guedes, R. N. T., Lucena, K. D. T. & Teixeira, A. P. C. (2009). Paternidade: responsabilidade social do homem no papel de provedor. Revista de Saúde Pública, 43(1),85-90.

Frost, N., Capdevila, R. & Johnson, S. (2015). Special issue of women's studies international forum: choosing mothering? The gendering of agency. Women's Studies International Forum, 53, 103-106. Recuperado em 28 de agosto, 2015, de dx.doi.org/10.1016/j.wsif.2015.02.001

Gianordoli-Nascimento, I. F., Oliveira, F. C., Cruz, J. P. D., Freitas, J. C., Reis, D. B., Santos, T. L. A. & Mendes, B. G. (2015). Representações sociais de “ser mulher militante”: as imbricações entre geração e gênero na trajetória de militância de mulheres durante a ditadura militar brasileira. Memorandum, 28, 110-131. Recuperado em 28 de agosto, 2015, de www.fafich.ufmg.br/memorandum/a28/gianordolinascimentoetalii02.

Giust-Desprairies, F. (2002). Représentation et imaginaire. Em J. Barus-Michel, E. Enriquez & A. Lévy. (Org.s). Vocabulaire de psychosociologie (pp. 231-250). Paris: Eres.

Gottlieb, A. (2009). Para onde foram os bebês?: em busca de uma antropologia de bebês (e de seus cuidadores). Psicologia Usp, 20(3),313-336. Recuperado em 28 de agosto, 2015, de www.revistas.usp.br/psicousp/article/view/42002

Granato, T. M. M.,Corbett, E. & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2011). Narrativa interativa e psicanálise. Psicologia em Estudo (Maringá), 16(1), 157-163. Recuperado em 28 de agosto, 2015, de www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722011000100018

Herrmmann, F. A. (1991). Andaimes do real: o método da psicanálise (2a ed.). São Paulo: Brasiliense. (Original publicado em 1979).

Jaspers, K. (1979). Psicopatologia geral (S. P. Reis, Trad.). Rio de Janeiro: Atheneu. (Original publicado em 1910).

Lei n. 8.069 (1990, 13 de julho).Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Recuperado em 20 de setembro, 2015, de www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm

Lieberman, D. E. (2013). The story of the human body. New York: First Vintage.

Lima, A. X. S. (2011). Mães más: um olhar sobre o abandono. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Política Social. Universidade Federal Fluminense, Niteroi, RJ.

Mariano, F. N. & Rossetti-Ferreira, M. C. (2008). Que perfil da família biológica e adotante, e da criança adotada revelam os processos judiciais? Psicologia: Reflexão e Crítica [online]., 21(1), 11-19. Recuperado em 28 de agosto, 2015, de www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722008000100002&lng=en&nrm=iso.

Mello, I. S. P. B. & Dias, C. M. S. B. (2003). Percepção de homens e mulheres acerca de quem entrega um filho para adoção. Psicologia: Ciência e Profissão, 21(3), 76-83. Recuperado em 28 de agosto, 2015, de www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932003000100011

Montezi, A. V., Barcellos, T. F., Ambrósio, F. F. & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2013). Linha de passe: adolescência e imaginário em um filme brasileiro.PsicologiaemRevista, 19(1),74-88. Recuperado em 28 de Agosto, 2015, depepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682013000100007

Motta, M. A. P. (2005). Mães abandonadas: a entrega de um filho em adoção (2a ed.). São Paulo: Cortez.

Moutinho, L. (2014).Diferenças e desigualdades negociadas: raça, sexualidade e gênero em produções acadêmicas recentes. Cadernos Pagu, 42, 201-248. Recuperado em 28 de agosto, 2015, dedx.doi.org/10.1590/0104-8333201400420201

Oswald-Spring, U. (2013). Dual vulnerability among female household heads. Acta Colombiana de Psicología, 16(2), 19-30. . Recuperado em 28 de agosto, 2015, dewww.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0123-91552013000200002

Politzer, G. (1994). A crítica dos fundamentos da psicologia: a psicologia e a psicanálise (M. Marcionilo & Y.M. C. T. da Silva, Trad.s). Piracicaba, SP: Unimep. (Original publicado em 1928).

Pontes, M. L. S., Cabreira, J. C., Ferreira, M. C. & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2008). Adoção e exclusão insidiosa:o imaginário de professores sobre a criança adotiva.Psicologia em Estudo, 13(3), 495-502. Recuperado em 28 de agosto, 2015, dewww.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-73722008000300010&script=sci_abstract&tlng=PT

Renault, E. (2008). Souffrances sociales. Paris: La Découverte.

Rossetti-Ferreira, M. C., Almeida, I. G., Costa, N. R. A., Guimarães, L. A., Mariano, F. N., Teixeira, S. C. P. & Serrano, S. A. (2012). Acolhimento de crianças e adolescentes em situações de abandono, violência e rupturas. Psicologia: Reflexão e Crítica, 25(2), 390-399. Recuperado em 04 de dezembro, 2014, de www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79722012000200021&script=sci_arttext.

Rutherford, A., Capdevila, R., Undurti, V. & Palmary, I. (2011). Feminisms and psychologies: multiple meanings, diverses practices, and forging possibilities in a age of globalization. Em A. Rutherford, R. Capdevila, V.Undurti & I. Palmary (Org.s). Handbook of international Feminism: perspectives on psychology, women, culture and rigths (pp. 3-14). New York: Springer.

Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. (2014). Pesquisa brasileira de mídia 2014: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira.Brasília, DF: Autor.

Serrano, S. E. (2013). The potential of social representations theory (SRT) for gender equitable research. Acta Colombiana de Psicología, 16(2), 63-70. Recuperado em 04 de setembro, 2015, de www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0123-91552013000 200006

Simões, C. H. D. & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2010). Cuidado com o malandro: imaginário coletivo de profissionais de saúde sobre a dependência química. Em Anais Jornada Apoiar, VIII, (pp. 291-296). São Paulo: Instituto de Psicologia da USP.

Simões, C. H. D. (2012). Sofredores, impostores e vítimas da sociedade: imaginário de uma equipe de saúde mental sobre o paciente psiquiátrico. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP.

Soejima, C. S. & Weber, L. N. D. (2008). O que leva uma mãe a abandonar um filho?Aletheia, 28, 174-187. Recuperado em 04 de dezembro, 2014, de pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942008000200014

Tachibana, M. (2011). Fim do mundo: o imaginário coletivo da equipe de enfermagem sobre a gestação interrompida. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP.

Tachibana, M., Montezi, A. V., Barcelos, T. F., Sirota, A. & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2015). Who are the teenagers of today?: collective imaginary of Brazilian teachers. International Journal of Information and Education Technology, 5(1), 47-49. Recuperado em 04 de setembro, 2015, de www.ijiet.org/show-50-526-1.html

Downloads

Publicado

2017-12-11

Como Citar

Ferreira-Teixeira, M. C., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2017). Maldade, drogas ou desespero: o imaginário sobre a mãe que abandona seu bebê. Memorandum: Memória E História Em Psicologia, 33, 128–141. Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/memorandum/article/view/6653

Edição

Seção

Artigos