Uma experiência de pesquisa em psicologia no encontro com o povo Guarani M’byá

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35699/1676-1669.2024.47528

Palavras-chave:

povos indígenas, memória, Guarani M’byá, psicologia

Resumo

Este texto apresenta e discute o encontro de uma pesquisadora em psicologia com uma terra indígena Guarani M’byá, localizada no norte do estado de Santa Catarina. Os pressupostos teórico-metodológicos, inspirados na etnografia e na perspectiva bakhtiniana de análise dialógica do discurso, possibilitaram a experiência de encontro em que se reconhece a alteridade na produção de conhecimentos em pesquisa. Compreendemos que as memórias Guarani M’bya, embora sobreviventes a processos de apagamentos, permanecem sendo praticadas na relação com o território, incorporadas e ocorrendo em condição de movimento. Como resultado da experiência realizada com vestígios, reconhecemos diferentes faces da colonialidade que se reafirmam contemporaneamente e confrontos com os modos de viver ocidentalizados. Identificamos a necessidade de a psicologia deslocar-se do olhar eurocêntrico. E, por fim, desde o contato com os modos de vida do povo Guarani M’byá, apontamos algumas pistas para um porvir humano.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Neiva de Assis, Universidade Federal de Santa Catarina

Docente no Departamento de Psicologia e no Programa de Pós-graduação em Psicologia - UFSC. Graduada em Psicologia, Especialista em Gestão Escolar, Mestrado e Doutorado na UFSC. Realizou estudos pós-doutorais no Dipartimento di Scienze Sociali ed Economiche, Scuola di dottorato in Scienze Sociali ed Economiche, Facoltà di Scienze Politiche, Sociologia e Comunicazione dell Università Degli Studi di Roma La Sapienza em 2022 e 2023. Pesquisadora do NUPRA - Núcleo de Pesquisa em Práticas Sociais, Estética e Política e do LAPEE - Laboratório de Psicologia Escolar e Educacional.

Andrea , Universidade Federal de Santa Catarina

Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Professora titular aposentada da UFSC. Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná, mestrado e doutorado em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Realizou estudos pós-doutorais na Università Degli Studi di Roma La Sapienza e na UFRGS em 2009. Foi pesquisadora visitante da New School for Social Research em 2016. 

Referências

Aguirre Neira, J. C. (2008). Ocupação e gestão territorial de indígenas Mbyá-Guarani: Análise a partir da formação da Aldeia Itanhaen em Santa Catarina – Brasil. [Dissertação de Mestrado, Programa de Pós- graduação em Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa Catarina]. Repositório Institucional da UFSC. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/91902

Articulação Brasileira dos(as) Indígenas Psicólogos(as) [ABIPSI]. (Org.). (2022). Pintando a psicologia de jenipapo e urucum: narrativas de indígenas psicólogos(as) do brasil. Casa Leiria. www.guaritadigital.com.br/casaleiria/olma/pintandoapsicologia/index.html

Assis, N., & Zanella, A. V. (2016). Lixo: outras memórias da/na ci-dade. Fractal, 28(2), 195-203. https://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/1408

Assis, N., & Zanella, A. V. (2021). Construção do patrimônio cultural e produção de memórias em São Francisco do Sul-SC. Quaderns de Psicologia, 23(2), e1688. https://doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.1688

Assis, N., Zanella, A. V., & Boligian, L. (2017). Histórias, memórias, lugares: Seu Maneca e a comunidade do Casqueiro em São Francisco do Sul - SC. Textura, 19(39), 92-111. https://doi.org/10.17648/textura-2358-0801-19-39-2706

Bakhtin, M. (2011). Estética da criação verbal (6a ed.). Martins Fontes.

Benites, T. K (2018). Ore ava reko: luta dos Guarani e Kaiowa pela manutenção de seu modo de viver. In D. T. Gallois & V. Macedo (Orgs). Nas redes guarani: saberes, traduções e transformações (pp. 65-72). Hedra.

Benjamin, W. (2012). Sobre o Conceito de História. In W. Benjamin. Magia e técnica, arte e política: Ensaios sobre literatura e história da cultura (8a ed., pp. 241-252). Brasiliense.

Brasil. Fundação Nacional de Saúde. (2002). Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (2a ed.). Ministério da Saúde. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_saude_indigena.pdf

Bosi, E. (2023). Memória e sociedade: lembranças de velhos. Companhia das Letras.

Certeau, M. (2013). A invenção do cotidiano (Vol. 1). Vozes.

Clifford, J. (2002). A experiência etnográfica: antropologia e leitura no século XX. UFRJ.

Conselho Federal de Psicologia (Brasil) [CFP]. (2017). Relações Raciais: Referências Técnicas para atuação de psicólogas/os. CFP.

Conselho Federal de Psicologia (Brasil) [CFP]. (2019). Referências têcnicas para atuação de psicólogas(os) para a atuação de psicólogas(os) com povos tradicionais. CFP.

Conselho Federal de Psicologia (Brasil) [CFP]. (2022). Referências Técnicas para atuação de psicólogas(os) junto aos povos indígenas. CFP.

Conselho Regional de Psicologia de São Paulo [CRP SP]. (2010). Psicologia e povos indígenas. CRP SP. http://www.crpsp.org.br/povos/povos/livro.pdf

Cunha, M. M. L. C. (2012). Apresentação: dossiê efeitos das políticas de conhecimentos tradicionais. Revista de Antropologia, 55(1), 10-14. http://www.revistas.usp.br/ra/article/view/46955/51323

Cunha, A. G. (1982). Dicionário histórico das palavras portuguesas de origem tupi (2a ed.). Melhoramentos.

Dalcin, I. (1993). Em busca de uma "terra sem males": as reduções jesuíticas guaranis, evangelização e catequese nos sete povos das missões. EST.

Decreto Presidencial nº 6.861, de 27 de maio de 2009. (2009). Dispõe sobre a Educação Escolar Indígena, define sua organização em Territórios Etnoeducacionais e dá outras providências. Presidência da República. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d6861.htm

Dooley, R. A. (1982). Vocabulário do Guarani: vocabulário básico do Guarani contemporâneo (dialeto Mbyá do Brasil). SIL.

Ferraz, I. T., & Domingues, E. (2016). A psicologia brasileira e os povos indígenas: atualização do estado da arte. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(3), 682-695. https://doi.org/10.1590/1982-3703001622014

Geertz, C. (1989). A interpretação das culturas. Guanabara.

Giard, L. (2013). História de uma pesquisa. In M. Certeau. A invenção do cotidiano (Vol. 1, pp. 9-32). Vozes.

Gonçalves, J. B. (2015). Etnoterritorialidade e a homologação da Terra Indígena Morro dos Cavalos. [Trabalho de Conclusão de Curso, Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica, Universidade Federal de Santa Catarina] Repositório Institucional da UFSC. https://licenciaturaindigena.paginas.ufsc.br/files/2015/04/João-Batista-Gonçalves.pdf

Guimarães, D. S. (2022). A tarefa histórica da psicologia indígena diante dos 60 anos da regulamentação da psicologia no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão, 42(spe), e263587. https://doi.org/10.1590/1982-3703003263587

Instituto Socioambiental (2006). Entrevista com Viveiros de Castro: “No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é”. Povos indígenas no Brasil. https://pib.socioambiental.org/files/file/PIB_institucional/No_Brasil_todo_mundo_é_índio.pdf

Kopenawa, D., & Albert, B. (2015). A Queda do Céu: palavras de um xamã Yanomami. Companhia das Letras.

Leal de Oliveira, A., Bragatto, J. R., & Lima, M. M. S. (2023). A inconstitucionalidade do marco temporal: riscos e ameaças à tutela dos povos indígenas originários do Brasil. Revista Direitos Sociais e Políticas Públicas, 10(3), 455–486. https://doi.org/10.25245/rdspp.v10i3.1349

Lemos, F. C. S., Galindo, D., Zanella, A. V., Bengio, F. C. S., & Assis, N. (2018). Políticas de patrimonialização e a produção de subjetividades ao sul do Brasil. Revista Psicologia Política, 18(41), 07-17. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2018000100002&lng=pt&tlng=pt

Litaiff, A. (2008). Mitos e práticas entre os índios Guaranis. Tellus, 8(14), 11-37.

Longhini, G. D. N. (2022). Da cor da terra: perspectivas indígenas guarani sobre etnogenocídio, raça, etnia e branquitude. [Tese de doutorado, Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina] Repositório Institucional da UFSC. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/241036

Luciano, G. J. S. B. (2006). O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Ministério da Educação. http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/indio_brasileiro.pdf

Luciano, G. J. S. B. (2019). Educação escolar indígena no século XXI: encantos e desencantos. Mórula.

Machado, J. S., Darella, M. D. P., Zea, E. M. S. (Orgs). (2020). Ações e saberes Guarani, Kaingang e Laklãnõ-Xokleng em foco: pesquisas da Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica Guarani. Edições do Bosque. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/222424

Martins, H. V. (2015). Intersecções em Psicologia: raça/etnia, gênero, sexualidades. Abrapso.

Monteiro, J. (2004). O desafio da história indígena no Brasil. In: A. L. Silva & L. D. B. Grupion (Orgs.). A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus (4a ed., 221-236). MEC/MARI/UNESCO.

Pereira, V. (2015, 29 de outubro). Demarcação de área indígena do Morro dos Cavalos, em Palhoça, será investigada por CPI. Zerohora. https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2015/10/demarcacao-de-area-indigena-do-morro-dos-cavalos-em-palhoca-sera-investigada-por-cpi-4889867.html

Santos, M. (2014). A Natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. USP.

Schaden, E. (1962) Aspectos fundamentais da cultura Guarani. Difusão Europeia do Livro.

Silva, L. A. L., & Souza Filho, C. F. M. (2021). Marco temporal como amenaza a los derechos territoriales indígenas y quilombolas en Brasil. Homa Publica, 5(2), e:094. https://periodicos.ufjf.br/index.php/HOMA/article/view/36504

Smith, L. T. (2018). Descolonizando metodologias: pesquisa e povos indígenas. UFPR. http://dx.doi.org/10.5380/cra.v20i2.70323

Smolka, A. L. B. (2000). A memória em questão: uma perspectiva histórico-cultural. Educação e Sociedade, 21(71), 166-193. https://doi.org/10.1590/S0101-73302000000200008

Tassinari, A. M. I. (2001). Escola Indígena: novos horizontes teóricos, novas fronteiras de educação. In A. L. Silva & M. K. L. Ferreira (Orgs). Antropologia, História e Educação: a questão indígena e a escola (2a ed., pp. 44-70). Global.

Tassinari, A. M. I. (2007). Antropologia, educação e diversidade. In V. Z. Cardoso. (Org.). Diálogos transversais em Antropologia (pp. 161-176). UFSC.

Terena, L. M., & Bairrão, J. F. M. H. (2023). Etnia e nominação: ancestralidades em disputa e recomposições. Psicologia USP, 34, e220066. https://doi.org/10.1590/0103-6564e220066

Universidade Federal de Santa Catarina [UFSC]. (2020). Projeto Pedagógico de Curso: Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica (Guarani, Kaingang e Laklãnõ-Xokleng). UFSC.

Viana, I., Tonial, F. A. L., Bruniere, M. F., & Maheirie, K. (2019). Colonialidade, invisibilização e potencialidades: experiências de indígenas no ensino superior. Revista Psicologia Política, 19(46), 602-614. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2019000300016&lng=pt&tlng=pt

Downloads

Publicado

2024-11-04

Como Citar

Assis, N. de, & Zanella , A. V. (2024). Uma experiência de pesquisa em psicologia no encontro com o povo Guarani M’byá. Memorandum: Memória E História Em Psicologia, 41, e47528. https://doi.org/10.35699/1676-1669.2024.47528

Edição

Seção

Artigos