Literatura e Retórica na Institutio oratoria de Quintiliano e no Supremo Tribunal Federal brasileiro

Autores

  • Charlene Martins Miotti Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
  • Wagner Silveira Rezende Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Palavras-chave:

Literatura, Retórica, Quintiliano, Institutio oratoria, Supremo Tribunal Federal

Resumo

Este trabalho tem por objetivo apontar semelhanças entre alguns recursos argumentativos dos juízes do Supremo Tribunal Federal brasileiro e os preceitos de Quintiliano no sexto livro da Institutio oratoria quanto à manipulação das emoções do auditório e ao emprego de excertos literários em discursos forenses. Para tanto, compara-se seis citações diretas da Eneida de Virgílio, usadas pelo antigo rétor para ilustrar algumas estratégias de persuasão bem sucedidas, aos votos de cinco juízes em três hard cases recentes que atraíram muita atenção midiática: a ADI 3510 (lei de biossegurança sobre pesquisa com células- tronco), a ADI 4277 (reconhecimento da união homoafetiva) e a ADPF 54 (descriminalização do aborto em casos de nascituros diagnosticados com anencefalia). A comparação parece oportuna para demonstrar a atualidade e a circulação de um modus operandi retórico já discutido e aceito pelos antigos, mas que, modernamente, engendra certa ameaça ao mito do Direito imparcial e objetivo.

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Biografia do Autor

Charlene Martins Miotti, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Graduou-se em Letras (2003, licenciatura e bacharelado) pela Universidade Estadual de Campinas, fez mestrado (2006) e doutorado (2010) em Linguística (área de Estudos Clássicos, UNICAMP), com estágio de doutoramento na Università degli Studi di Siena (Unisi). Atualmente, é professora adjunta de Língua e Literatura Latinas na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), atuando na linha de pesquisa "Literatura e Crítica Literária" do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários. Seus interesses de pesquisa convergem para os seguintes temas: ensino de latim e grego clássico, poesia augustana, intertextualidade e relações intergenéricas na literatura antiga, retórica e prática oratória na Antiguidade.

Wagner Silveira Rezende, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Bacharel em Direito (2007), Licenciado (2009) e Bacharel (2010) em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com Mestrado (2010) em Ciências Sociais pela UFJF. Doutor (2014) em Ciências Sociais pela UFJF, tem experiência na área de Teoria Social, Política e Direito, com ênfase em Retórica e Argumentação, Sociologia Jurídica, Sociologia e Educação, e Avaliação Educacional. Atualmente, é coordenador de análises e publicações do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação - CAEd/UFJF.

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Publicado

2016-02-05

Como Citar

Miotti, C. M., & Rezende, W. S. (2016). Literatura e Retórica na Institutio oratoria de Quintiliano e no Supremo Tribunal Federal brasileiro. Nuntius Antiquus, 11(2), 47–70. Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/nuntius_antiquus/article/view/17158

Edição

Seção

Artigos