Trauma paterno, melancolia e depressão
a representação da doença mental em Uma tristeza infinita, de Antônio Xerxenesky, e O ar que me falta, de Luiz Schwarcz
DOI:
https://doi.org/10.17851/2358-9787.34.1.%25pPalavras-chave:
Antônio Xerxenesky, Luiz Schwarcz, melancolia, depressão mental, psicanáliseResumo
Propõe-se aqui a análise e interpretação de duas obras literárias brasileiras contemporâneas, a saber, o romance de Antônio Xerxenesky, Uma tristeza infinita (2021), e o relato autobiográfico de Luiz Schwarcz, O ar que me falta (2021). Procura-se esclarecer, com apoio em estudos psicanalíticos, como, em ambas as obras, dá-se a apropriação pelos narradores de uma herança paterna traumática relativa à experiência judaica durante a perseguição nazista na Segunda Guerra Mundial. A personagem do romance, um psiquiatra, sofre de melancolia aguda, ao passo que o editor que escreve seu relato de memórias combate uma depressão bipolar. O cuidado com a doença, que segue paralelo a uma longa jornada de autodescobrimento, pressupõe para os protagonistas uma reinvenção pessoal do legado do pai, a atenção às relações afetivas da vida cotidiana e busca na representação do sofrimento psíquico um efeito cognitivo e terapêutico.
Referências
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