Paradoxo e animismo

Osman Lins, um selvagem civilizado

Autores

  • João Guilherme Dayrell UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais

DOI:

https://doi.org/10.17851/2358-9787.25.2.297-318

Palavras-chave:

Osman Lins, animismo, paradoxo, primitivismo.

Resumo

Em uma famosa objeção à comparação de sua literatura com aquela engendrada pelos nouveaux romanciers franceses, Osman Lins afirmava ser tal corrente literária extremamente civilizada enquanto, ao contrário, via-se (a si mesmo e a sua prosa) como “um tanto civilizado, mas […] mais ou menos primitivo, um selvagem civilizado”. Considerando que o primitivismo osmaniano é colocado pelo autor como algo da ordem dos “instintos” e do “incompreensível”, pretendemos com este artigo demonstrar como este aspecto foi identificado de maneira precisa pelo crítico franco-lusitano Álvaro Manuel Machado, sobretudo quando este autor propõe o “paradoxo” e o “animismo” como chaves de leitura de Nove, novena e Avalovara. Em seguida, aclararemos o interesse de Lins pela coincidentia oppositorum e pelo “olhar” dos animais propostos por Mircea Eliade, além de abordar o protagonismo dos viventes não humanos e da natureza em geral em suas duas obras supracitadas. Finalmente, exporemos como Lins, em sua literatura, elabora uma veemente crítica à pretensão à racionalidade pura.

Biografia do Autor

  • João Guilherme Dayrell, UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais

    É doutor em Estudos Literários e Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com a tese "Osman Lins: a economia da natureza e a terra por vir", e período sanduíche na Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales sob orientação de Emanuele Coccia. Possui mestrado em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com a dissertação "O sensível cinemático: des-montagens em eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato". Atualmente leciona no curso de Letras da UFMG como parte do estágio pós-doutoral que realiza sob tutoria de Jacyntho Lins Brandão, pesquisando a relação dos Novos Romancistas franceses com a fenomenologia, o cinema e o primitivismo.

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Publicado

2016-12-29