A metamorfose fatal
mistura e alteridade em “Meu tio o Iauaretê”, de João Guimarães Rosa
DOI:
https://doi.org/10.17851/2358-9787.28.1.69-90Keywords:
conto, literatura brasileira, cultura indígena, alteridade, short-story, Brazilian literature, indigenous culture, alterity.Abstract
Resumo: Neste ensaio, busca-se empreender uma leitura analítico-interpretativa de “Meu tio o Iauaretê”, o extraordinário conto incluído no livro Estas estórias, de João Guimarães Rosa, publicado postumamente em 1969, de modo a mostrar como o encontro entre o narrador-protagonista e o forasteiro que chega ao seu rancho, no meio do sertão, não poderia ter tido um resultado diferente da eliminação do caçador de onças, índio mestiço, além de misturado em diversos outros aspectos, e que parecia prestes a metamorfosear-se em onça. A civilização representada pelo branco adventício parece incapaz de tolerar o misturado e muito menos aquele que se apresenta como o seu outro radical. Nesse sentido, a narrativa figuraria, entre outras coisas, o modo como o homem branco, muito melhor aparelhado tecnologicamente do que o nativo, foi responsável pela destruição da cultura indígena.
Palavras-chave: conto; literatura brasileira; cultura indígena; alteridade.
Abstract: This essay focuses on the analysis of “Meu tio o Iauaretê”, a short story included in Estas estórias, a posthumously published book by João Guimarães Rosa. The study of the tale aims to show how the meeting between the character-narrator and the outsider who arrives at his hut, which is located in the middle of the sertão, could not have had a different outcome for the jaguar hunter, a mixed blood indigenous man who seems on the verge to transform himself into a jaguar. The civilization represented by the foreign white man does not seem to tolerate the mixed one, who seems to be, above all, its radical other. In this context, the tale can be seen as a representation of the indigenous culture destruction.
Keywords: short-story; Brazilian literature; indigenous culture; alterity.
References
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1990.
CAMPOS, Haroldo de. A linguagem do Iauaretê. In: COUTINHO, Eduardo de Faria. Guimarães Rosa. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira. 1991. p. 574-579.
GALVÃO, Walnice Nogueira. O impossível retorno. In: ______. Mínima mímica: ensaios sobre Guimarães Rosa. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 11-40.
MARTINS, Nilce Sant’Anna. O léxico de Guimarães Rosa. 3. ed. rev. São Paulo: Edusp, 2008.
RÓNAI, Paulo. Nota introdutória. In: ROSA, João Guimarães. Estas estórias. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 15-17.
ROSA, João Guimarães. Meu tio o Iauaretê. In: ______. Estas estórias. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 191-235.
SPERBER, Suzi Frankl. A virtude do jaguar: mitologia grega e indígena no sertão rosiano. Remate de Males, Campinas, v. 12, p. 89-94, 1992.