CHAMADA O Eixo e a Roda - v. 34, n. 3 (jul. - set. 2025) Dossiê: Territórios indivisíveis: Corpo, escrita e política no Brasil e na América hispânica
CHAMADA O Eixo e a Roda - v. 34, n. 3 (jul. - set. 2025)
Dossiê: Territórios indivisíveis: Corpo, escrita e política no Brasil e na América hispânica
Organizadores:
Ana Carolina Macena (Instituto Federal de São Paulo)
Debora Duarte dos Santos (Universidade Estadual de Santa Cruz)
Ellen Maria Vasconcellos (Universidade Nacional Autônoma do México)
Prazo para submissão: 24 de fevereiro de 2025
Jean-Luc Nancy propõe uma abordagem distinta para pensar a escrita quando afirma que escrever é um gesto que "toca no corpo, por essência". Nesta perspectiva, para além de sua dimensão simbólica, Nancy reconhece na escrita a sua materialidade ao concebê-la como uma extensão do corpo, em sua extremidade. A escrita seria, portanto, esse espaço limite de partilha onde se dá a inscrição do corpo-fora, permitindo que este seja tocado e possa tocar outros corpos, afetando-se e afetando-os mutuamente.
Haja vista esta espécie de contiguidade entre corpo e escrita, que contempla também todo tipo de modulações performáticas, o objetivo deste dossiê é investigar como a escrita do corpo, em certas manifestações literárias — principalmente, brasileiras e hispano-americanas —, torna-se rota para pensar novos modos de existência e resistência, nos quais se afirma a materialidade de corpos escritos. Ao invés de reconhecer a vida exclusivamente por sua dimensão transcendental, separada de sua dimensão corpórea, buscam-se artigos que instigam a pensar a existência como uma densidade indivisível, em um contexto onde a vida coincide consigo mesma, com seu modo de ser imanente, isto é, com a materialidade dos corpos e das coisas que os cercam, que se tocam e se entrecruzam infinitamente (DELEUZE, GUATTARI).
Nesse sentido, assim como Deleuze afirma que “os corpos não se definem por seu gênero ou sua espécie, por seus órgãos e suas funções, mas por aquilo que podem, pelos afetos dos quais são capazes, tanto na paixão quanto na ação”, interessam-nos para o diálogo que ora abrimos propostas que explorem a escrita e a arte como espaço de intersecção e implicação física, material, problematizando os dualismos que distanciam mente/corpo, humano/não humano, pessoa/coisa, na tentativa de forjar a noção de humano (ESPOSITO): corpos tecnológicos, corpos pós-orgânicos, corpos animalizados, corpos mutantes, corpos em atuação.
São também bem-vindas propostas que investiguem modos de sobrevivência em meio à precariedade da vida, à catástrofe, aos fins e à violência à qual estes corpos estão expostos (BUTLER), discutindo dispositivos biopolíticos de reinvenção da vida e afirmação de outras subjetividades não-normativas ou controláveis, dignas de direitos: corpos enfermos, corpos precários, corpos disformes, corpos migrantes, corpos de gênero e sexualidade dissidentes, enfim, corpos marginalizados.
Referências
BUTLER, Judith. Vida precária: os poderes do luto e da violência. Tradução de Andreas Lieber. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Diálogos. Tradução de Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Escuta, 1998.
DELEUZE, Gilles. A Imanência: uma vida… Educação & Realidade, v. 27, n. 2, 2002, p. 10-18. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/view/31079. Acesso em: 4 out. 2024.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. Tradução de Aurélio Guerra Neto, Ana Lúcia de Oliveira, Lúcia Cláudia Leão e Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34, 1999. v. 3.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs. Tradução de Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34, 2008. v. 4.
ESPOSITO, Roberto. Las personas y las cosas. Tradução de Federico Villegas. Buenos Aires: Katz Editores, 2016.
ESPOSITO, Roberto. Imunidad, comunidad, biopolítica. Las Torres de Lucca. Madrid, v.1, Jul.- dic. 2012, p. 101-114.
NANCY, Jean-Luc. Corpus. Tradução de Tomás Maia. Lisboa: Vega, 2000.