Jeitos do deambular, sentidos do contemplar
da rua e da janela em narrativas de Aníbal Machado
DOI:
https://doi.org/10.17851/2358-9787.26.2.343-363Palabras clave:
melancolia, tempo, fetiche, Rio de Janeiro, modernização.Resumen
A janela e a rua constituem-se como imagens que, nos primórdios da modernidade, tornaram-se matrizes recorrentes nas artes e na literatura, e cujas representações tematizam a pujança da cidade moderna (GOMES, 2002). Na literatura brasileira, as duas imagens comparecem, respectivamente, nas narrativas “O telegrama de Ataxerxes” e “Viagem aos seios de Duília”, de Aníbal Machado. No primeiro conto, o fantasioso Ataxerxes apresenta-se como certo tipo de flâneur, entusiasta e deslumbrado ante o espetáculo e a vitalidade das ruas do Rio de Janeiro, em cuja pulsação e energia ele, ardentemente, deseja se imiscuir. No segundo conto, José Maria observa a capital federal a partir da janela da própria casa, em Santa Teresa. A aposentadoria é a oportunidade de o melancólico funcionário público fazer um balanço de vida e constatar o vazio da própria trajetória. A janela de onde José Maria vê a cidade lá embaixo seria uma metáfora da experiência melancólica identificada com a postura de contemplação da vida, em lugar da efetiva inserção nela. Há um elo com o passado e com uma cidadezinha de Minas Gerais, tempo-espaço de uma experiência fetichista envolvendo os seios de Duília. O retorno ao lugarejo em busca do passado e de Duília se apresenta como um grande equívoco. A dificuldade em lidar com o tempo se reflete também no descompasso entre a experiência do tempo biológico e a do tempo existencial.
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