As dúvidas póstumas de Félix
ciúme, ressentimento e ascetismo em Ressurreição, de Machado de Assis
DOI:
https://doi.org/10.17851/2358-9787.26.3.159-175Palabras clave:
ascetismo, ciúme, ressentimento.Resumen
O artigo propõe uma análise do primeiro romance de Machado de Assis, Ressurreição, com base nos conceitos filosóficos de ressentimento e ascetismo. O objetivo é argumentar que o ciumento protagonista Félix, ao sofrer com “dúvidas póstumas”, assemelha-se ao “homem do ressentimento” e ao “asceta”, tipos fisiopsicológicos estudados por Nietzsche em Genealogia da moral e ficcionalizados por Machado em Dom Casmurro e Memorial de Aires, respectivamente. Félix, assim como Bento Santiago, é um sujeito ciumento refém de seu passado e de suas marcas, desprovido daquela que seria a autêntica ação (a afirmativa), restando-lhe somente a reação, que consiste numa espécie de autoenvenenamento que o devora por dentro. E, tal qual o Conselheiro Aires, Félix pratica um ascetismo sui generis, evitando contaminar-se emocionalmente com relações afetivas. Veremos que os tipos nietzschiano e machadiano mostram-se complementares na discussão sobre o lugar de Félix no universo ficcional de Machado, de modo que sua comparação oferece uma contribuição para uma renovada compreensão das dimensões literária e filosófica de Ressurreição.
Referencias
ASSIS, J. M. M. Obra completa em quatro volumes. v. 1. 3. ed. São Paulo: Nova Aguilar, 2015a.
ASSIS, J. M. M. Obra completa em quatro volumes. v. 2. 3. ed. São Paulo: Nova Aguilar, 2015b.
ASSIS, J. M. M. Obra completa em quatro volumes. v. 3. 3. ed. São Paulo: Nova Aguilar, 2015c.
CALDWELL, H. O Otelo brasileiro de Machado de Assis: um estudo de Dom Casmurro. Tradução de Fábio Fonseca de Melo. 2. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2008.
CANDIDO, A. Esquema de Machado de Assis. In: ______. Vários Escritos. 2. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1977. p. 13-32.
CEI, V. A voluptuosidade do nada: niilismo e galhofa em Machado de Assis. São Paulo: Annablume, 2016.
CONSTÂNCIO, J. Arte e niilismo: Nietzsche e o enigma do mundo. Lisboa: Tinta da China, 2013.
GLEDSON, J. The Deceptive Realism of Machado de Assis: A Dissenting Interpretation of Dom Casmurro. 1. ed. Liverpool: Francis Cairns, 1984.
GUIMARÃES, H. S. Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o público de literatura no século 19. 1. ed. São Paulo:
Nankin Editorial; Edusp, 2004.
NIETZSCHE, F. W. Genealogia da moral: uma polêmica. Tradução de Paulo César de Souza. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
NUNES, B. Machado de Assis e a filosofia. Travessia, Florianópolis, n. 19, p. 7-23, 1979.
PASSOS, J. L. Machado de Assis: o romance com pessoas. 1. ed. São Paulo: Edusp; Nankin Editorial, 2007.
PLATÃO. A República. Tradução de Carlos Alberto Nunes. 3. ed. Belém: EDUFPA, 2000.
REGO, E. S. O calundu e a panaceia: Machado de Assis, a sátira menipeia e a tradição luciânica. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989.
ROCHA, J. C. Machado de Assis: por uma poética da emulação. 1. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013.
SANTIAGO, S. Jano, janeiro. Teresa – Revista de Literatura Brasileira, São Paulo, v. 6, n. 7, p. 429-452, 2006.
SANTIAGO, S. Retórica da verossimilhança. In: SANTIAGO, S. Uma literatura nos trópicos: ensaios sobre dependência cultural. 2. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. p. 27-46.
SHELLEY, P. B. The Complete Poetical Works of Percy Bysshe Shelley. 1. ed. Cambridge: The Riverside Press, 1901.
SENNA, M.; DIEGO, M. R. L. Retorno a “Ressurreição”, um fecundo romance de estreia. Machado de Assis em linha, São Paulo, ano 4, n. 7, p. 129-142, 2011.