A literatura indígena como crítica da modernidade

sobre xamanismo, normatividade e universalismo – notas desde A queda do céu: palavras de um xamã yanomami, de Davi Kopenawa e Bruce Albert

Autores/as

  • Leno Francisco Danner Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
  • Julie Stéfane Dorrico Peres Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS)

DOI:

https://doi.org/10.17851/2358-9787.26.3.129-156

Palabras clave:

modernidade, xamanismo, diferença, normatividade, crítica, universalismo.

Resumen

Este texto realiza uma discussão entre literatura e filosofia-sociologia com base na correlação entre o paradigma normativo da modernidade, na versão de Weber e de Habermas, e a posição xamânica de Davi Kopenawa, com o intuito de refletir sobre os conceitos de crítica, emancipação e universalismo. A razão de tal discussão é bem direta: o paradigma normativo da modernidade fala do xamanismo como antípoda da racionalização, ao passo que, no caso de Davi Kopenawa, o xamanismo é exatamente uma voz-práxis crítica da modernidade. No mesmo sentido, o paradigma normativo da modernidade defende que a crítica, a reflexividade, a emancipação e o universalismo somente são possíveis por meio desse mesmo paradigma, em suas características de formalização, neutralidade, imparcialidade e impessoalidade. Em contrapartida, no xamanismo explicitado e representado por Davi Kopenawa, é possível perceber-se que a crítica, a reflexividade e a emancipação são dadas e viabilizadas exatamente pela vinculação sociocultural e pela pertença antropológico-ontológica – o xamanismo é crítico da modernidade como xamanismo, desde si mesmo. Com base nessa discussão, o artigo argumentará que, no caso das minorias, é somente por meio de sua voz-práxis como diferenças e a partir de sua singularidade que a sua reafirmação e a sua consequente crítica à modernidade são possíveis. É questão de vida e de morte, portanto, para essas mesmas minorias, assumir-se, constituir-se e dinamizar-se como minorias. Para isso, a literatura, em sua estrutura antiparadigmática e antiformalista, muito mais do que o racionalismo científico, pode servir como voz-práxis das diferenças, por elas, para elas.

Biografía del autor/a

  • Leno Francisco Danner, Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

    Doutor em Filosofia (PUC-RS). Professor de Filosofia e de Sociologia do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

  • Julie Stéfane Dorrico Peres, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS)

    Doutoranda em Letras, área de concentração em teoria da literatura, pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Estuda literatura indígena contemporânea e, em particular, autobiografias indígenas.

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Site consultado

Estamos tomando água poluída, de mercúrio. O povo yanomami vai sumir. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/20/politica/1492722067_410462.html>. Acesso em: 29 abr. 2017.

Publicado

2017-11-07

Número

Sección

Dossiê: Filosofia e literatura no Brasil: contágio, passagem, disseminação