As facetas do humano na percepção gonçalvina
uma análise da correspondência e do diário de viagem à Amazônia
DOI:
https://doi.org/10.17851/2358-9787.28.4.139-166Palabras clave:
Gonçalves Dias, correspondência, diário, humano, representação, indígenaResumen
Resumo: Este artigo busca explorar a complexidade dos modos de representação do indígena em Gonçalves Dias para além da sua obra poética, a partir de textos híbridos que a complementam: seus escritos pessoais. Selecionamos, para este fim, registros de um momento crucial da trajetória do autor: o ano de 1861, em que viajou para a Amazônia e teve, assim, ocasião de confrontar o imaginário criado em torno da figura do indígena e a experiência empírica. Tendo já toda a obra indianista publicada, mas sempre com projetos de escrever mais (Os Timbiras permanecia incompleta), o poeta mestiço vive nessa viagem uma situação ímpar de reflexão, que desenvolve através da correspondência e do diário de viagem. À luz de teóricos da decolonialidade, procuramos compreender as origens do ideário que influenciou a percepção gonçalvina e situar a categoria “humano” nas suas diversas facetas, valorações e gradações. A leitura desse material sugere uma tensão racial intensa, na qual se empregam designações diversas com base na cor da pele e na miscigenação. Observamos a ambivalência presente no jogo entre convenção poética e o registro descritivo das observações pessoais, isto é, na dificuldade de definir objetivamente quem seria o índio, quem representaria a “nossa gente”.
Palavras-chave: Gonçalves Dias; correspondência; diário; humano; representação; indígena.
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