RELATOS SELVAGENS
O ESPELHO INDÍGENA NAS LETRAS QUINHENTISTAS E SEISCENTISTAS
DOI:
https://doi.org/10.17851/2358-9787.31.2.11-27Palabras clave:
colonização, povos indígenas, retórica jesuítica, retórica protestante, modernidadeResumen
Neste artigo, compararemos os olhares coloniais sobre os indígenas pela ótica católica de Vieira e de Nóbrega com as perspectivas protestantes de Staden, de Léry e de Knivet. Por meio desse estudo, pretendemos observar como os desdobramentos das discursividades jesuíticas e protestantes sobre o tema se relacionam, pois, conforme apontou Daher em sua análise, é simplista a ideia de que o colonizador português deprecia o nativo, em contraste com o viajante francês, que o exalta. Desse modo, defendemos que a multiplicidade retórica produzida sobre o tema foi de cabal relevância para a formação do pensamento moderno, em consonância com as afirmações de Marcondes sobre o ensaio “Dos canibais”, de Montaigne. Dentre outros teóricos que nos servem de apoio, destacamos os trabalhos de Hansen e Lima, cujas conclusões nos ajudam a entender como os povos originários se tornam “espelhos” para a representação de outras realidades.
Referencias
ARARIPE JÚNIOR, Tristão de Alencar. Istoria de uma viagem feita á terra do Brazil por joão de leri traduzida em linguagem vernácula. Editoração eletrônica de Ivanice Cássia Foschiera. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, nº52, v. 80, p. 111-372, Rio de Janeiro: 1889.
BÍBLIA Sagrada. 41. ed. São Paulo: Paulinas, 1985.
BRANDÃO, Helena Hathsue Nagamine. Etnocentrismo e alterida de indígena: ambigüidades do discurso colonial em escritos de Vieira.
Filologia e Linguística Portuguesa, São Paulo, n 9, p. 185-200, 2007.
DAHER, Andréa. Do selvagem convertível. Topoi, Rio de Janeiro, v. 3, n. 5, p. 71-107, 2002.
JOÃO III. Regimento que levou Tomé de Souza governador do Brasil, Almerim, AHU, códice 112, fls. 1-9. Lisboa: 1548.
HANSEN, João Adolfo. Manuel da Nóbrega. Recife: Massangana, 2010.
HUE, Sheila Moura. Introdução In: KNIVET, Anthony. As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
KNIVET, Anthony. As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet. Tradução Sheila Moura Hue. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
LESTRINGANT, Frank. De Jean de Léry a Claude Lévi-Strauss: por uma arqueologia de Tristes trópicos. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 43, n. 2, p. 81-103, 2000.
LÉVINAS, Emmanuel. Entre nós: ensaios sobre a alteridade. Tradução
Pergentino Stefano Pivatto. Petrópolis: Vozes, 2004.
LÉRY, Jean de. Viagem à terra do Brasil. Tradução Sergio Milliet. Rio de Janeiro: Editora Biblioteca do Exército Brasileiro, 1961.
LIMA, Luiz Costa. O redemunho do horror: as margens do Ocidente. São Paulo: Planeta, 2003.
LIMA, Luiz Costa. Sociedade e discurso ficcional. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.
MARCONDES, Danilo. Montaigne, a descoberta do Novo Mundo e o
ceticismo moderno. Kriterion, Belo Horizonte, v. 53, n. 126, p. 421 433, 2012.
MONTAIGNE, Michel de. “Dos canibais”. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
NÓBREGA, Manuel da. Cartas do Brasil: cartas Jesuíticas. São Paulo: Edusp, 1988.
OLIVEIRA, Ana Lúcia de. Por quem os signos dobram: uma abordagem das letras jesuíticas. Rio de Janeiro: Eduerj, 2003.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emílio ou Da educação. Tradução Sérgio Milliet. São Paulo: Difusão Europeia do livro, 1973.
STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil. Tradução Angel Bojadsen. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2019.
TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. Tradução Leila Perrone Moisés. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
VIEIRA, Antônio. Cartas Missionárias. Lisboa: Círculo de Leitores, 2013. t. 1. v. 2. (Coleção Obras completas Padre António Vieira).