Jeitos do deambular, sentidos do contemplar

da rua e da janela em narrativas de Aníbal Machado

Autores/as

  • Carlos Augusto Magalhães Universidade do Estado da Bahia - UNEB

DOI:

https://doi.org/10.17851/2358-9787.26.2.343-363

Palabras clave:

melancolia, tempo, fetiche, Rio de Janeiro, modernização.

Resumen

A janela e a rua constituem-se como imagens que, nos primórdios da modernidade, tornaram-se matrizes recorrentes nas artes e na literatura, e cujas representações tematizam a pujança da cidade moderna (GOMES, 2002). Na literatura brasileira, as duas imagens comparecem, respectivamente, nas narrativas “O telegrama de Ataxerxes” e “Viagem aos seios de Duília”, de Aníbal Machado. No primeiro conto, o fantasioso Ataxerxes apresenta-se como certo tipo de flâneur, entusiasta e deslumbrado ante o espetáculo e a vitalidade das ruas do Rio de Janeiro, em cuja pulsação e energia ele, ardentemente, deseja se imiscuir. No segundo conto, José Maria observa a capital federal a partir da janela da própria casa, em Santa Teresa. A aposentadoria é a oportunidade de o melancólico funcionário público fazer um balanço de vida e constatar o vazio da própria trajetória. A janela de onde José Maria vê a cidade lá embaixo seria uma metáfora da experiência melancólica identificada com a postura de contemplação da vida, em lugar da efetiva inserção nela. Há um elo com o passado e com uma cidadezinha de Minas Gerais, tempo-espaço de uma experiência fetichista envolvendo os seios de Duília. O retorno ao lugarejo em busca do passado e de Duília se apresenta como um grande equívoco. A dificuldade em lidar com o tempo se reflete também no descompasso entre a experiência do tempo biológico e a do tempo existencial.

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Biografía del autor/a

Carlos Augusto Magalhães, Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Licenciado em Letras Vernáculas pela Universidade Católica do Salvador (1982), Bacharel em Direito pela Universidade Federal da Bahia (1980), Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília - UnB (1994), Doutor em Letras pela Universidade Federal da Bahia - ILUFBA (2003), Pós-Doutor pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS (2012). É PROFESSOR TITULAR PLENO da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), atuando na Graduação em Letras do Departamento de Ciências Humanas do Campus I, Salvador. É também Professor Permanente do Mestrado Estudos de Linguagem. Pesquisa principalmente os seguintes temas: cidade, modernidade, contemporaneidade, Walter Benjamin, melancolia, narrativa contemporânea, violência urbana, subjetividade.

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Publicado

2017-08-25