“Palavras suaves para os operários”
trabalho e trabalhadores no projeto literário de Carolina Maria de Jesus
DOI :
https://doi.org/10.17851/2358-9787.27.2.131-156Mots-clés :
literatura brasileira, trabalho, Carolina Maria de Jesus.Résumé
Resumo: A partir das obras Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960) e Diário de Bitita (1986), de Carolina Maria de Jesus, este artigo propõe uma leitura preliminar da categoria trabalho e seu duplo, trabalhador, tendo como pressuposto as relações entre literatura e sociedade (CANDIDO, 2006). Para tanto, entende-se a posição da escritora e sua autorrepresentação (DALCASTAGNÈ, 2007) como interseccional (DAVIS, 2016): mulher, negra e pobre; e parte de três eixos de análise: a representação do outro como trabalhador; a representação de si como trabalhadora; e a representação/formalização de si em relação à escrita. A hipótese explorada neste texto é que a categoria trabalho/trabalhador constitui dialeticamente as narrativas carolineanas, seja no conteúdo, seja na forma. Por este percurso, por sua vez, foi possível constatar que a ambiguidade com que o trabalho é tratado revela um movimento de síntese em torno de um projeto literário de Carolina Maria de Jesus, que tem como elemento central justamente pensar e representar o mundo do trabalho a partir de uma reflexão sobre si.
Palavras-chave: literatura brasileira; trabalho; Carolina Maria de Jesus.
Abstract: Departing from the literary pieces Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960) and Diário de Bitita (1986), both written by Carolina Maria de Jesus, this paper proposes a preliminary reading of the labor category and its counterpart, the laborer, having as a backdrop the relationship between literature and society. For that matter, we take the writer’s position and her (DAVIS, 2016) self-representation (DALCASTAGNÈ, 2007) to be intersectional: a black and poor woman and part of a tripartite analytical axis - the representation of the other as working men and women; the self-representation as a working woman; and the representation/formalization of herself towards the act of writing. The hypothesis explored here is that the category of labor/laborer constitutes, in a dialectical way, Carolinean narratives, both in substance and in literary form. Following this idea, it was possible to conclude that the ambiguity in which labor is treated reveals a movement of synthesis around the literary project of Carolina Maria Jesus, whose central element is the thought and the representation of the labor world as a result of thinking about herself.
Keywords: Brazilian literature; labor; Carolina Maria de Jesus.
Références
BRAGA, R. A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista. Boitempo: São Paulo, 2013.
CANDIDO, A. Literatura e sociedade. Ouro sobre Azul: Rio de Janeiro, 2006.
COOPER, F.; HOLT, T. C.; SCOTT, R. J. Além da escravidão: investigações sobre raça, trabalho e cidadania em sociedades pós-emancipação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
DALCASTAGNÈ, R. A auto-representação de grupos marginalizados: tensões e estratégias nas narrativas contemporâneas. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 42, n. 4, p.18-31, dez. 2007. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fale/article/viewFile/4110/3112>. Acesso: 28 mar. 2018.
DAVIS, A. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.
FEDERICI, S. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2016.
FERNANDES, F. A integração do negro na sociedade de classes: ensaio de interpretação sociológica. Rio de Janeiro: Globo, 2008. v. 1.
FIGUEIREDO, A. Prefácio à edição brasileira. In: DAVIS, A. A liberdade é uma luta constante. São Paulo: Boitempo, 2018.
FLORES, E. C. Palavras afiadas: memórias e representações africanistas na escrita de Carolina Maria de Jesus. CLIO – Revista de Pesquisa Histórica, v. 28, n. 1, p. 1-27, 2010.
GOMES, A. de C. Cidadania e direitos do trabalho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
JESUS, C. M. de. Diário de Bitita. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
JESUS, C. M. de. Quarto de despejo. São Paulo: Editora Ática, 1960. (Coleção Sinal Aberto)
LESSA, S. Mundo dos homens: trabalho e ser social. São Paulo: Instituto Lukács, 2012.
MARX, K. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011.
NASCIMENTO, A. P. Trabalhadores negros e o “paradigma da ausência”: contribuições à história social do trabalho no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 29, n. 59, p. 607-626, set.-dez. 2016.
PEREIRA NETO, M. L. A fábrica, o sindicato, o bairro e a política: a “reinvenção” da classe trabalhadora de São Paulo (1951-1964). Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 1, n. 1, p. 225-257, jan.-jun. 2009. DOI: https://doi.org/10.5007/1984-9222.2009v1n1p225
PUREZA, F. C. Representações da fome: carestia e racialização na obra Pedaços da fome, de Carolina Maria de Jesus. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 66, p. 52-68, 2017.
RIDENTI, M. Em busca do povo brasileiro. Rio de Janeiro: Record, 2000.
SOUZA, F. F. Trabalho doméstico: considerações sobre um tema recente de estudos na História Social do Trabalho no Brasil. Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 7, n. 13, p. 275-296, jan.-jun. 2015. DOI:https://doi.org/10.5007/1984-9222.2015v7n13p275
THOMPSON, E. P. As peculiaridades dos ingleses e outros ensaios. Campinas: Editora da Unicamp, 2012.
WEIMER, R. de A. Em que a trajetória do sr. Manoel Inácio Marques Neto pode contribuir à compreensão da formação do proletariado brasileiro? (Rio Grande do Sul, década de 50 do século XX). Revista Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 8, n. 16, p. 11-32, jul.-dez. 2016. DOI: https://doi.org/10.5007/1984-9222.2016v8n16p11