A NARRATIVA MÍTICA, HERÓICA E CRÍTICA DA GUERRA
DIÁLOGO POÉTICO ENTRE A GRUTA AMERICANA, DE SILVA ALVARENGA, E O CANTO HERÓICO, DE CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
DOI :
https://doi.org/10.17851/2358-9787.31.2.108-123Mots-clés :
arcadismo, século XVIII, Silva Alvarenga, Cláudio Manuel, Minas GeraisRésumé
Manoel Inácio da Silva Alvarenga é detentor de uma obra vasta, eclética e riquíssima, caracterizada pelo espírito crítico e pela obediência à simplicidade e naturalidade próprias do arcadismo, mas que se envereda também pela narrativa mítica e fantástica. É o caso do poema A Gruta Americana, publicado no ano de 1779 e escrito em Minas Gerais, dois anos após Alvarenga retornar de Portugal. O poema trata da participação da capitania de Minas Gerais nas tropas arregimentadas para fazer frente às invasões espanholas ao sul do Brasil, ocorridas no início de 1777. Compõe-se como um grande quadro alegórico, no qual a história da guerra é contada por uma entidade indígena que habita uma gruta encravada nos sertões das Minas. O canto mágico que ecoa da gruta é precedido por uma narrativa que descreve detalhadamente o cenário, os personagens e os elementos que lá se escondem. Neste artigo, é feita uma analogia desta obra com o poema Canto Heroico, de Cláudio Manuel da Costa, que versa sobre o mesmo tema, sendo possível perceber visões e estilos que ora se aproximam, ora se distanciam, mas que certamente estabelecem um diálogo rico e fecundo, de grande qualidade estética, como era comum entre os árcades ultramarinos, ilustres representantes da poesia brasileira do século XVIII.
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