Poesia mulher
traição e tradição modernista em Assionara Souza
DOI :
https://doi.org/10.17851/2358-9787.32.1.272-294Mots-clés :
poesia contemporânea, Assionara Souza, tradição, autoria femininaRésumé
O presente estudo centra-se na poética da escritora paranaense Assionara Souza (1969-2018). Embora a autora tenha dois livros de poemas publicados, sendo um deles póstumo, a preferência da escritora era apresentar seu trabalho no ciberespaço, utilizando várias plataformas, como o blog pessoal Cecília não é um cachimbo e sua página pessoal no Facebook. É destes espaços que selecionamos os poemas “Drummond em tempos sinistros” (2015), “Bandeira” (2016), “Misael, seu desgraçado” (2017a) e “Penélope” (2017b) para a análise neste artigo, cujo objetivo é lançar um olhar sobre o jogo estabelecido com a tradição modernista brasileira, que ora se apresenta como uma traição, ora como uma questão afetiva, mas que acima de tudo traz uma nova composição de personagens femininas da literatura, que foram produzidas por homens e agora são reconstruídas por Assionara. Para o desenvolvimento de tais questões, são tomadas as discussões propostas por Octávio Paz (1984) e Luciana Di Leone (2014) em torno do papel da tradição e do afeto; Diana Klinger (2014) e a noção de ética no afeto, Rita Lenira de Freitas Bittencourt (2017, 2020) e Tamara Kamenszain (2015) sobre o papel da figura feminina. Percebe-se enfim que a poeta Assionara Souza estabelece um diálogo com a tradição, traindo-a quando insere a visão e a perspectiva da mulher.
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