O baile de máscaras
narrador e autor em Bufo & Spallanzani
Mots-clés :
narrador; autor; Rubem Fonseca.Résumé
Este trabalho propõe uma leitura das funções de narrador e de autor em Bufo & Spallanzani (1986), de Rubem Fonseca. Para tanto, partiremos da análise das diferentes funções que cabem a Gustavo Flávio na obra, uma vez que, além de ser um dos protagonistas e o narrador, ele constantemente interrompe a narração com comentários acerca de temas como a literatura, a escrita, o mercado cultural, entre outros, o que o aproxima da noção de autor, conforme Tacca (1983). O próprio Flávio, além disso, nos é apresentado como escritor de romances e, mais especificamente, produz uma narrativa homônima a de Rubem Fonseca. Em contrapartida a esse personagem-autor, verificamos a presença de uma outra imagem de autor que sub-repticiamente envolve todo o romance. Essa outra imagem de autor assombra a narrativa e tem seus contornos mais bem delimitados quando se verifica uma ironização de Flávio, enquanto narrador/autor. Essa idiossincrasia da narrativa fonsequiana ganha relevo quando discutimos um aspecto postulado pela crítica sobre o processo narrativo do autor brasileiro. Referimo-nos à ideia de Antonio Candido (2000), e também desenvolvida por Mazzaferro (1984), de que as obras mais instigantes de Fonseca seriam aquelas em que o discurso do narrador/autor abre espaço para a narração de personagens pertencentes às camadas sociais menos privilegiadas, numa espécie de “abdicação estilística”. Por outro lado, para Candido, narradores como Flávio, que pertencem à classe social de Fonseca, se relacionariam a obras menos interessantes.
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