Imagens do povo em Grande sertão: veredas
DOI:
https://doi.org/10.17851/2358-9787.27.3.85-101Parole chiave:
povo, comunidade, poder, people, community, power.Abstract
Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar as imagens do povo presentes na obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Para tanto, propõe-se fazer uma crítica das noções de comunidade e povo, configuradas pelo projeto de nação moderno da década de 1950. A crítica visa repensar o sentido totalizante dessas duas concepções. A leitura de Grande sertão: veredas pretende identificar na obra conceitos de povo e comunidade que escapam às reconfigurações modernas de nação. Nesse sentido, a partir das obras de Roberto Esposito, Didi-Huberman e Giorgio Agamben, analisa-se a população sertaneja não como uma união coesa, mas como uma multiplicidade de singularidades que habitam e convivem numa dimensão comunitária da vida. O domínio do comum é entendido como uma modalidade de ser-com, em que o convívio com o outro não é um reforço da identidade, mas sim uma expropriação de si, das fronteiras da subjetividade. Ao analisar os diversos povos do sertão, inclusive aqueles que foram mortos e cujos sofrimentos são testemunhados por Riobaldo, busca-se pensar num conceito de justiça relacionado com a memória que dá visibilidade a essas populações esquecidas do sertão.
Palavras-chave: povo; comunidade; poder.
Abstract: This article aims to analyze people images in Grande sertão: veredas (The devil to pay in the Backlands), by Guimarães Rosa. In order to do so, the notions of community and people, shaped by the project of modern nation construction in the 1950s, are criticized. The critique aims to reshape the totalizing sense of these two conceptions. The reading of Rosa’s novel intends to identify concepts of people and community that escape from the modern reconfigurations of nation. Therefore, in the light of Roberto Esposito’s, Didi-Huberman’s and Giorgio Agamben’s works, the backlands population is comprehended not as a cohesive union, but as a multiplicity of singularities that inhabits and coexists in a communitarian life dimension. The common domain is understood as a modality of being-with, in which the cohabitation with the other is not a reinforcement of identity, but an oneself expropriation and of the subjectivity borders. By analyzing the diverse hinterland peoples, including those who were killed and whose sufferings were witnessed by Riobaldo, a concept of justice related to the memory of the forgotten backlands populations is approached.
Keywords: people; community; power.